Era pequeno e você me amava, e eu adorava
você !
Tinha um medo danado de perdê-la...
Me ensinastes a dar os primeiros passos, a falar as primeiras
palavras, respeitar a Deus e ao próximo, orar agradecendo o pão de cada dia...E
então, pedia ao Criador para que a protegesse sempre e nunca levasse você
embora, para longe de mim...Fiquei doente, passei mal, e você orava com fé,
juntamente com o papai e manos, fazendo tudo para salvar-me. Levaram-me à São
Paulo de avião, para novas consultas médicas e tratamento (tudo era tão caro, e
a vida difícil, mas você fez promessa à Nossa Senhora Aparecida e ela me
salvou..
Fostes, anos depois, até a cidade de
Aparecida do Norte, me levando junto, cumprir a sua promessa: acender uma vela
do tamanho que eu estivesse...
Por mais de 30 anos eu vim até aqui no
Cemitério de Getulina, sem nunca ter
morrido ninguém da minha família...
Acompanhava à quase todos os enterros: de
recém nascidos, jovens, mocos e moças, idosos, todos parentes de amigos que nos deixaram, alguns na flor da idade...
E como você me havia ensinado a rezar, mamãe, eu rezava por eles... e rezava,
também, para que Deus não levasse você de mim...eu continuava tendo um medo
doido de perde-la...
E nós seis – papai, você, eu, Salomão Leila e
Suraya – éramos tão felizes !
Uma noite, chovia...e, perdemos o nosso
papai, apesar de eu ter pedido tanto para que ele, também, vivesse mais e
mais...
Como você sofreu mamãe ! Nunca demonstrastes
desespero, tinha sempre muita paciência, e um enorme carinho para com todos.
Continuastes a tocar a loja e a cuidar de nós
e do nosso lar...
Preocupava-se com todos, inclusive com os
outros...quantos namoros e casamentos arranjastes !
Quantos conselhos, recomendações fizestes,
reconciliando inúmeros casais, ensinando a arte sublime de saber aceitar,
suportar os defeitos alheios, ressaltando as virtudes do próximo e perdoar
sempre ! Quantos lares ajudastes a edificar e montar !
Na sua loja, os fregueses compravam sempre
com ou sem dinheiro...muitas vezes, sem entrada e mais...nada ! Era nossa mãe,
e a verdadeira “mãe dos pobres”, também.
Fostes a mais ativa e antiga comerciante de
Getulina. Trabalhastes sempre com afinco, por mais de 70 anos, ora medindo
panos, tecidos, ora vendendo móveis, e nem conseguistes a sua tão almejada
aposentadoria ! (que injusta, e tola burocracia, heim ?).
Cozinhavas bem, como ninguém ! E pensar, que quando casastes, não sabias
fritar um ovo, sequer !
Os seus saborosos, invejados e nunca imitados
pratos culinários, ficaram conhecidos e famosos por todos, não só em nossa
terra, como em todo o mundo. A nossa mesa sempre farta, no mínimo eram dez
pratos variados, diariamente, tanto no almoço, como no jantar (que gostosura !
). E, não eras a grande Mestra somente na cozinha árabe, não ! A sua
macarronada, o seu arroz-feijão, seus bifes a milanesa ou acebolados, a
batatinha, o nhoque, os assados, e outros variados pratos,nunca ninguém
conseguirá fazer igual e tão gostoso !
E quando morria alguém na cidade, tanto
pobre, como rico, você sempre se preocupou em fazer a comida, e depois enviá-la
à família enlutada (pois, dizia que eles, naquele momento estavam em desespero,
e não poderiam fazer a alimentação para si, e para os eventuais parentes que
vieram acompanhar o féretro...). E lá ia eu, levar paneladas de comidas, que a
Dona Meire fizera, para os familiares e amigos do então falecido(a).
A comunidade de Getulina reconheceu seu
trabalho e seus feitos beneméritos ! Outorgou-lhe a Câmara Municipal o Título
de “Cidadã Getulinense”, e o Rotary Club, homenageou-a, na década de 1980, como
a “Mãe do Ano”.
E você, sempre tão bonita, com seus lindos
vestidos, cabelos sempre bem penteados, sapatos de saltos bem altos, baton,
rouge, e unhas compridas e maravilhosamente esmaltadas (Que elegância, heim? ).
Nunca fostes orgulhosa, na sua simplicidade e grandiosidade, eras carinhosa,
amiga, caridosa ao extremo !
O tempo passava, e eu adulto, continuava
pedindo ao nosso Bom Deus, que não deixasse você morrer, ir embora...que nunca
levasse você para longe e mim... eu precisava primeiro me casar, e ser bem mais
adulto, para então poder suportar a separação... E quantas vezes você quase nos
deixou... Quantas cirurgias, em tão pouco tempo... E cada vez que isso
acontecia, eu rezava, fervorosamente, ao nosso Pai do Céu, rogando para que
você vivesse mais um final de Ano, mais um Natal, mais uma Páscoa, mais um
aniversário, mais um Dia das Mães conosco... E você então melhorava, e nós
agradecíamos felizes... nos reunindo à sua volta, na sua bela casa, que por
você e o papai, foi edificada com tanto amor e sacrifícios...
E a Dona Meire, continuava a encantar à
todos, com a sua carismática simpatia !
Depois... você caiu novamente, mamãe,
fraturou o fêmur... nova cirurgia, novas preces para que você sarasse e
voltasse a andar. E Ele me atendeu, você melhorou... E nós voltamos a sorrir...
Você, tempos depois, teve nova queda, seus
ossos estavam fracos... nova cirurgia... E eu já adulto, casado, com cinco
filhos e netos, ainda me sentia criança, e sem forças para suportar a sua
eventual ausência... E outra vez pedi à Deus, e fui atendido, você voltou viva
para casa...
Como você sofria, mamãe !
E eu relembrava , como você sempre procurou servir, nada
querendo em troca.
Que pessoa maravilhosa foi você, mamãe ! ( Sei que todas as mães são ou foram boas, mas você
foi especial, que me desculpem os outros e as outras, a senhora, querida, foi
realmente, fora de série, encantadora ! ). O quanto você fez por mim... por nós... e, como tão pouco fizemos
por você !
Mas, ontem à tarde, você resolveu nos deixar... Sei que
estava sofrendo muito, querida, era
preciso descansar... mas, nós, egoístas, queríamos que vivesse mais e mais...
Não sei, seu eu não estava mais rezando direito...mas, só sei que a gente
é eternamente uma criança crescida, e
que você, mamãe, nunca envelheceu... Chegara a hora da sua partida...
Como é difícil querer aceitar tudo isso ! É bastante
triste !
Que enorme vazio
você deixou, meu amor !
Nem todo o montão de lembranças e saudades que estamos
sentindo de você, irão preencher esse
vazio... nunca !
Não há dúvida, que quando você, e ou, sua alma chegou no céu, por certo, São Pedro, foi logo lhe dizendo: - “Pode
entrar, Dona Meire, a senhora, também, aqui não precisa nem pedir licença...”
Eu sei, que dentro de alguns dias, no firmamento irá
brilhar uma nova estrela, linda e maravilhosa, e se olharmos direito, ela se
distinguirá das outras, por estar usando
rouge, baton, esmalte, sapatos de saltos altos e, brilhará eternamente,e, pelo
jeito, ninguém duvidará que será você, mamãe, que virou, para nos consolar, uma
estrela encantada !
Vá...e descanse em
paz, minha querida !
Adeus !...
Milton Hauy
Lindo! Emocionante! Esta foi a mais bela homenagem que já li. Toda vez que olhar para o céu tentarei encontrar essa estrela tão charmosa de uma mãe tão querida.
ResponderExcluirMinha prezada amiga Lucelena de Freitas, me comove, a manifestação expedida em seu belo comentário acima; um carinhoso e agradecido abraço
ResponderExcluirMILTON HJ LI SUA MENSAGEM À SUA MAE, ACHEI MARAVILHOSA QTOS FILHOS HJ PERDIDOS NESTE MUNDO LOUCO DE DROGAS E CRIMES DEVERIAM LER E SEGUIR O EXEMPLO POIUS ASSIM NÃO TERIAMOS TANTAS MALDADES - ABRAÇOS ZE BEREBA SEU AMIGO DE INFANCIA
ResponderExcluirMeu estimado amigo Zé Bereba, agradeço o seu belo comentário, onde associa exemplo dignificante do mundo mau, que na nossa infante-juventude não existia, pois , realmente, nós éramos obrigados a ser feliz...
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