domingo, 3 de março de 2013

O VELHO FUTEBOL


O VELHO FUTEBOL



                            Insisto em relembrar o bom tempo, do velho e bom futebol, do Gigante de Madeira, que era o Estádio do Clube Atlético Linense, que ficava ali onde hoje se encontra instalado o Supermercado Luzitana, ao lado onde foi o Cine Lins, e atualmente é uma Igreja .


                            O local acima citado, foi palco de inúmeras partidas sensacionais, permitindo que os torcedores vissem de perto os seus  clubes e ídolos  de preferência, que integravam o elenco do:  Santos F.C. da Sociedade Esportiva Palmeiras, do São Paulo Futebol Clube, do Sport Clube Corinthians Paulista, da Portuguesa de Desportos, e  outros.


                            Oportunidade que se viu , dentre outros, o Pelé,  Coutinho e Pepe, Oberdan, Jair, Rodrigues, Mazzola,Waldemar Fiume, Ademir da Guia, Baltazar, Luizinho, Gilmar, Poy, Bauer, Turcão, e uma infinidade de outros craques que  marcaram época no esporte bretão de todos os tempos.


                            Havia um jovem  japonês (sem demérito nenhum para a laboriosa raça, e me perdoem  a irreverência) que ficava nas arquibancadas, com uma aparelhagem estranha, dizendo ser rádio-amador, transmitindo os jogos, ou gravando-os para o Japão.

                            Certa vez, veio o São Paulo Futebol Clube, o grande Tricolor Paulista,  jogar em Lins, contra o Elefante da Noroeste, que era o nosso querido Clube Atlético Linense, ocasião que se conseguiu gravar da eventual gravação do Japa, o seguinte : 



                            “Arô Brasiro ! Arô Japon ! Farando direto do campo do Rinense, campion da noroeste, que hoji joga contra o São Pauro Futibor Crube, que veio da Cidade Graande, onde os prédio são  tão arto, que  aranha o céu. !

                            Agora tá entrano no campo, o juízo da partida, todo de preeto, acho que mamãe dere moreu, heim ?

                            Ah! Acho que non, pois a torcida tá gritano; Ladron ! e o nome da mãe dere, Filho de uma pu..., non sei o que ....


                            Arô Japon !  Se chovê, eu avisa, viu ?


                            Agora, tá entrano no campo, o time do São Pauro, ih! Ninguém bate parma, é só um tar de UUUUUUU!

                            Ih! Agora, vem entrano o time do  Rinense, ah! tenho que tapá os ouvido, Bum! Bum! Bum! É estrondo prá todo rado, e tudo mundo bate parma ! Aregria gerar !

                            Vem entrano , junto com os jogador do Rinense, um monte de murecada, na frenti vem Herera, Ruio, Nôca, Icidiro, Amêríco, Wanchinto,Calabina, Aremonzinho, Frangon, Fredinho, e Tuninho.


                            O ténico do Rinense é o Brandon.


                            Inquanto arguns vão tilar letratos, Amêríco tá abanano as mão prá arquibancada : Acho que mamãe dere  tará, Heim ?


                            Ah! O Amêrico tá farano arguma coisa no ovido de Wanchinto, i os dois agola, dão lisada e  abana mão prá gelal ... acho   qui as  namoladas dêres, que tará..  acho que tará....  Wanchinto e Amêríco,  danados, heim ? 
                           

                            Agola a lenda da partida, até agola somou , ih! Acho que homê da bireteria misturô dinhêro do borso,  com dinhêro do caxa, tá difici de acertá, në ? Dispuis eu informa , viu ?


                            Viu, Japon, viu Brasiro, despois eu informa tudo, tá bom ?


                            Puxa vida, no campon tem monton de boras , cerá qui eres vão querê jogá com todas as boras ?

                            Juízo apitou, começou o joogo, uns cole plá lá, otros cole prá cá, e a bola sai fora de campo.... e um mureque leva era prá casa....mas, como  tem muitas  boras, ninguém percebe isso !


                            E o joogo tá colendo com tanta lapidês, que os plimeilos 45 minutos dulalam apenas deiz !


                            IH! Agola sai uma bliga na arquiibancanda... e outra  dentru du campo também !


                            É genti qui cole de um lado plá outro, a pulicia chega, prá apartá  e baixa o cacete !

                           
                            Bliga também na gelal ... em tudu lugar de campu....

                            É um quebla pau danado !

                            Enquanto isso, um jogadoro do São Pauro chuta uma bora no goro do Rinense e como tava sem golero, o juízo  marca como goro....ferando o Rinense...
                           
                            E o jogo termina....o juízo começa a apanhá também...



        
                            Com esse carorô, prá lefrescá , tome a cerveja preeta gerada, geradinha, cerveja preeta Cara...Cara... ( ih! Brasirero sem vergonha, num pode falá ládio !).

                            Aqui  entre nós, ao finalizar a transmissão comunicou  o Japa ( ao modo do Zé Fidelis) :
                            “O Juízo do joogo, foi muito cumplimentado, e o seu enterro realiza-se amanhã, caso faça bom tempo !”                       
                           

                                                        Boa noite !


                                                                  Milton Hauy 

domingo, 23 de dezembro de 2012

A FAZENDA DA PORCA



                                      Quando menino ainda, lembro-me  bem, de minha velha  infância, quando  meus pais abriram filiais, da nossa  loja de tecidos e móveis, nas cidades de Guaimbê  e  Júlio  Mesquita, com denominação de: “Casa  da  Baixa”(e até hoje, o ouço cantar, enquanto varria a calçada) :


                            “A  Casa da Baixa chegou em Guaimbê (bis)

                            E quem quiser fazer compras, que corra e venha vê...

                            Tudo bonito, tudo barato..., só não compra só quem não qué...(bis)

                            (Quem não pudé vir à cavalo, que venha à pé...)”
                                              
                                               &&&&&&&&&&&&&&&&


                            Íamos no ônibus ou jardineira que fazia linha Getulina-Garça, e vice versa, pela estrada velha de terra, que passava pelo Mato do Galêgo, pois, naquele  tempo, não possuíamos a nova  via asfaltada, portanto não haviam as arapucas das crateras que têm vitimado muita gente, e danificado inúmeros veículos...(Às vezes, sentimos vontade de encabeçar campanha, a fim de que se retire a camada asfáltica, e deixe o solo primitivo de terra... que, voltemos, como antes,  a enfrentar, muitas vezes,  o areião, as  poeiras... e, quando chover, o barro ou lamaçal , porém , sem o perigo atual...)  saíamos de Getulina às 7,00 horas e chegávamos em Guaimbê, minha mãe e eu, quase 8,00 horas da manhã, meu pai seguia adiante, na mesma jardineira, indo até Júlio Mesquita., retornávamos às 18,30 horas, chegando em Getulina depois das 19,30 horas, se tudo corresse bem...


                            O motorista da jardineira (da Empresa Irmãos Vizotto), era o Kelé  Bigóde, um homem verdadeiramente pândego, de estatura média, moreno,  alegre e brincalhão.

                            Na ida passávamos pelo já dito Mato do Galêgo, depois,  em frente às Fazendas : Boa Esperança, Aroeira, Alianças (Primeira e Terceira) , Pau D’Alho, e, caminhos para o Panay e Jurema,  muitas outras propriedades, todas  apinhadas de gente e  pés de café, tanto de um lado, como do outro,  de muitas delas, avistávamos as enormes   colônias, que abrigavam o pessoal, trabalhadores rurais, que ajudavam a formar e  cultivar os imensos cafezais, do maior centro cafeeiro do mundo .


                            Por essa e muitas outras estradas do nosso município, transitavam as intermináveis boiadas e tropas , com milhares de animais, que eram conduzidas pelos boiadeiros  e  pelos  tropeiros.


                            O motorista Kelé, quando passava por pedestres ou caminhantes,  que iam e viam  pela estrada, costumava passar trotes,  dizendo : -“Cuidado que ai atrás vem vindo uma boiada com gado muito bravo, cuidado !” O pessoal saia correndo, adentrando ao cafezal em debandada  carreira...

                            Era só risadas... e quando, depois, encontrávamos  o motorista, aqui na cidade, gritávamos : Kelé !  Ele  respondia, com sua voz grossa,  sorrindo  : Méééé...!
                              E nos dias de carnaval e Folia de Santo Reis, o Kelé  costumava fantasiar-se de Boi-Bumbá...

                            O Kelé Bigode,  morava em uma casa de madeira, que ficava nos fundos do grande terreno, onde depois , passou, como propriedade , pelos nomes dos saudosos amigos : Alberto/Luiz Carlos Nardi , que iniciaram  a construção de uma bela residência; Nilo Falqueiro, que  a terminou, posteriormente, vendendo-a para o Ditinho Valenciano.

                           


                            De vez em quando , ia na filial da Casa da Baixa,  de Júlio  Mesquita, e  passava  pela Fazenda  Chantembled (uma das maiores propriedades rurais do Estado, com mais de sete mil alqueires de terras) , ocasião que meu pai  nos contou, ouvira dizer, que o dono dela vendera um pequeno pedaço para Max Whirts, apenas, l.500 alqueires, que transformou-se na famosa Fazenda Suíça.

                                      Em ambas Fazendas, haviam inúmeras casas para os colonos, além da casa da sede, que era sempre a maior e mais bonita, possuía também : armazém, cinema, bares, lojas, oficinas, igrejas,  escolas, campos de futebol, bochas, malhas, parques infantis e clubes de  festas e danças.

                                      Foram  conhecidos e aplaudidos os times de futebol das Fazendas :  Chantembled  e   Suíça, que participaram de vários torneios,  em Garça, Julio Mesquita,  Guaimbê, e  Getulina.

                                      Para cercar os milhares de alqueires da Fazenda Chantembled, o seu proprietário adquiriu , em um leilão na Alemanha, os arames que cercavam,  os famosos  Campos de Concentração alemães, na época da guerra, e os trouxe de navio para o Brasil, depois, do Porto de  Santos,  foram transportados de trem e caminhões , para a dita e imensa propriedade rural.

                                      Desse modo, apenas para ilustrar, vejam só onde vieram parar os arames dos locais de  tantas torturas e sofrimentos...(!!??).


                                      Não sei se foi em razão disso, ou de outros acontecimentos, mas, dizem que, na  Fazenda Chantembled, nas noites de sexta feira, aconteciam coisas estranhas que amedrontavam seus moradores, seus  animais e pessoas  visitantes.

                                      Apesar das rezas e bençãos, que se  faziam pela propriedade, nada adiantava, os fatos voltavam a acontecer em cada sexta feira, de forma,  cada vez mais,  assustadora.


                                     Uma pessoa estranha, montada em uma enorme porca, aparecia , por volta da meia noite,  de cada sexta feira, causando muito medo e arrepios na população rural daquelas bandas, e depois desaparecia, inesperadamente....

                                      Motivo pelo qual, a importante propriedade rural, ficou conhecida como a “Fazenda da Porca”.

                                      Contratou-se pessoas valentes e religiosas para dar fim ao problema.

                                      Dentre elas, um homem forte, falante e dizendo ser muito valente e corajoso, um tal de Caculé,  prometia para a próxima sexta feira pôr fim no caso tormentoso, com suas armas e laços.

                                      Aquela  sexta feira foi aguardada com grande anseio e  expectativa...não só pela população rural, como a das cidades circunvizinhas, que ouviam e conheciam os fatos .


                                      Durante todos os dias que se seguiram,  o assunto não foi outro, em todos os lugares, pois a labuta diária não parava, tanto na lavoura, como no comércio, ruas,  lares, bares,  hortas e roças.

                                      Só que em noite de sexta feira, após as onze horas da noite, ninguém mais queria sair fora de casa...por dinheiro nenhum...

                                      Razão pela qual, o homem, nortista valente, usando armas e cinturões recheados de balas, a exemplo do temido  Cangaceiro Lampião,  que viera,  há pouco de fora, contratado,  para pôr termo às aparições fantásticas, passou a semana sendo admirado e invejado por todos daquela redondeza.

                                      Até que chegou o dia, digo, a noite tão esperada de sexta feira !

                                      Assim como  Caculé, o nortista valente iria sair à cata do homem que montava a porca, o pessoal resolveu também pôr a cabeça de fora, e esperar pelo importante momento, depois das onze horas da noite.


                                     Algumas janelas se abriam meio  acanhadas e medrosas, poucas portas se viam entreabertas, e os minutos passavam...

                                      Lá fora somente o Caculé, armado até os dentes, e um ventinho gelado e vagabundo vagava por entre a rua...

                                      Em certo momento, após o relógio marcar meia noite, se ouviu um grande  barulho, cães, gatos e outros animais da fazenda corriam de um lado para outro, latindo, uivando,  miando , relinchando, mugindo...

                                      Olhava-se, e, somente firme lá fora estava Caculé, olhando de um lado para outro... até que, então surgiu a figura estranha montada na enorme porca, sendo que ambos tinham  os olhos vermelhos  como fogo, e via-se que era o Capeta  Chifrudo quem montava a porca,  passando em grande velocidade, soltando estridentes gritos, que atemorizavam  à todos que ouviam...foi um tal de  gritar , fechar portas e janelas rapidamente, em conjunto, que o barulho tornou-se  maior ainda...

                                       Aqui   entre  nós, naquele instante , todos procuravam pelo valente Caculé, pois não sei se foi a tétrica cena do Capeta e sua porca, ou se foi o barulho do pessoal  medroso  da fazenda, que  assustou o Caculé, fazendo com que ele  saísse em maior velocidade que o Capeta, deixando-o  para trás, e se embrenhasse cafezal adentro, vindo, em menos de uma hora, parar, em Getulina, ofegante e cheio de pavor, com os trajes em farrapos e muitas escoriações pelo corpo, onde, após lavar-se, fazer curativos,  e trocar de roupas,  contou para todos o presente caso, que se espalhou por ai...



                                                                            
                                                                           Milton   Hauy

domingo, 2 de setembro de 2012

VAI QUEM SABE ...


Nossa Getulina, na áurea fase  da rubiácea, quando a sua   população era o triplo da  ora existente,  teve , dentre outros bons médicos, um homem iluminado , com seus defeitos e virtudes, pois era mortal, mas, as virtudes  suplantaram e muito os seus eventuais erros, cujo semblante é relembrado por todos que o conheceram, dele se beneficiaram com seus esmerados serviços de  profissional, desfrutaram de sua sincera amizade, e muito aprenderam  com  seus sábios conselhos sobre o viver melhor, razões pela quais  nunca será esquecido!


                        Tinha ele na época, o seu novo corcel amarelo e preto, e em marcha pesada percorria não só as ruas poeirentas e descalças de nossa urbe, como também as  estradas vicinais de nosso município, que como todos sabem, possui uma extensão geral,  de mais de quinhentos quilômetros.

                        Ele não se importava muito com o vil metal, queria auxiliar,  prestar serviços aos seus semelhantes, não distinguindo ricos e pobres, os atendia da mesma maneira , sempre empenhado em ajudá-los, procurando minorar o desespero e o sofrimento  alheio.

                        A qualquer hora , do dia ou da noite, em qualquer lugar, lá ia ele, às vezes até em lombo de burros, cavalgando à caminho do local necessitado, ora para fazer partos, ora para aplicar soros, injeções, curativos , em pacientes, em que   alguns,  via serem portadores das  mais graves doenças.

                        Uma coisa era certa, seus precisos diagnósticos nunca foram contrariados, e quando observava fugir  o caso de sua alçada, encaminhava, imediatamente, o paciente para os maiores centros, inclusive para a Capital do Estado, a fim de se submeterem a exames e tratamentos médicos mais especializados.


                        A sua competência médica ultrapassou fronteiras, não só de nosso Estado, como do nosso País.

                        Relembro, que um fazendeiro rico, morador em nosso  vasto município, foi para o Exterior, a fim de  consultar-se  com médicos estrangeiros, sobre o mal que contraíra, e que temia ser grave.

                        Acho que foi na França, quando após examinado, o especialista lhe perguntou, onde morava ?

                        Respondeu , que morava no Brasil, precisamente, em um município situado  no interior do Estado de São Paulo, cujo nome era Getulina., entre as cidades maiores que eram : Lins e Marília.


                        Estremeceu, admirado o fazendeiro do Brasil, quando o famoso médico estrangeiro lhe disse : - E o senhor veio tratar-se  aqui, sendo que no Brasil, mais precisamente na pequenina Getulina, tem o melhor médico para  cuidar de sua doença ?

                        O senhor  deve conhece-lo, e lhe disse o nome do nosso famoso Clínico Geral... recomendando que voltasse e o procurasse, só assim iria sarar mais cedo...

                        Em  tarde de clima ameno, fui visitá-lo, e durante o bom papo, me contou, que  no início de sua carreira, em uma certa manhã nublada, que a noite anterior havia chovido muito, atendeu ao chamado de uma mocinha, ela  se encontrava aflita, em frente ao portão de sua casa,, solicitando que fosse, de forma imediata  socorrer sua mãe, em Santa América, no Bairro “Vai quem Sabe”, pois a mesma  já se encontrava em trabalho de parto, necessitando da ajuda médica, pois o neném, seu irmãozinho,  estava em delicada posição, que a parteira não estava dando jeito... havia chovido muito à noite, e a estrada apresentava um lameiro considerável...que ela havia pego uma carona e viera até a cidade...


                        O Doutor, pegou seu carro,  sua valise, contendo medicamentos com   alguns instrumentais e rumou , juntamente com a garotinha para o atendimento necessário...

                        Quando se estava para chegar perto do rio, a menina, que era muito falante e esperta, e viera conversando o tempo todo com ele, disse que o seu nome era Rosa, mas chamavam-na  “Rosinha”; depois,   avisou ao médico, para tomar cuidado que a ponte  havia caído, e que ele deveria parar o carro, descer, atravessar o rio , deixar que ela ficasse ali tomando conta do veículo, enquanto ele fosse até a Fazenda Vinte de Maio, arrumar um cavalo e ir socorrer sua mãe e o novo irmãozinho, lá no “Vai quem Sabe”.


                        O Doutor, deixou a menina  lá no seu carro ouvindo o rádio,  e fez o que ela pediu...

                        Na Fazenda Vinte de Maio, emprestou um bom cavalo, que lhe foi arreado rapidamente, e desse mesmo modo tomou rumo que destinava, a fim de auxiliar no parto que se dificultara...


                        Depois, quando chegou, foi  recepcionado pelo marido da parturiente, que agradecia, aos céus, a sua presença ali... dizendo: -  Foi  Deus quem o mandou....

                        O médico disse que fora a sua filha, Rosinha, quem o chamou e o acompanhou  até o rio, relatando o que estava acontecendo e pediu que viesse urgente, o que foi feito....


                        O  sitiante ficou estarrecido.... enquanto o Doutor se dirigia ao quarto, e auxiliado pela velha parteira, com muito sacrifício, fizeram o parto, salvando a mãe e a criança ... Realmente nascera um meninão...(  O médico até pensou...a menina é mesmo danada, advinhou até o sexo do  nascituro !...).


                        Horas depois, tudo mais tranquilo, serviram ao Doutor um bom café, feito no fogão à lenha, com delicioso bolo de fubá,  e dentre os insistentes e reiterados agradecimentos, sentados na sala , quando a comadre falava que fora Deus, Nosso Senhor, que o mandara até aquele local, pois seus  práticos conhecimentos de parteira,  não ajudariam salvar mãe e filho, se o médico não chegasse...


                        O médico disse que fora Rosinha, quem o avisou e chamou que viesse socorrer a mãe e o irmãozinho, pois,  estava prestes à nascer e o caso se complicara ...inclusive ela ficara tomando conta do veículo, lá no outro lado do rio...vez que a ponte caíra...


                        O sitiante, emocionado,  e a parteira admirada, juntos, disseram não ser possível !


                        E o médico, apontando o porta retrato que estava sobre a estante, com a foto da  menina,  disse, foi ela , a Rosinha, quem foi me chamar...


                        Doutor , disse o pai de Rosinha, lembra quando o senhor estava viajando, há mais ou menos cinco anos atrás, minha menina ficou mal e morreu... Rosinha já não vive há mais de cinco anos, não pode ter sido ela quem o chamou !....


                        Foi ela sim, e ficou lá no carro, tomando conta, foi ela sim...


                        Vamos lá !

                        O médico e o pai da  menina, depois do verificarem se estava tudo bem com a mãe e o menino, saíram  e foram até o carro, que se encontrava do outro lado do rio...


                        Lá chegando, começava a chuviscar, o carro estava  com os vidros fechados, a chave no contato, e nele, nem nas adjacências,  ninguém!.... (Apenas, o rádio do carro continuava ligado e,  no momento, em que abriram as portas,  começou a tocar uma linda valsa, cantada por Orlando Silva, cujo nome é Rosa...).



                        Aqui   entre  nós, atualmente, o sitiante não mais mora em nosso município, foi com sua família, talvez,  para o Estado do Paraná, a parteira e o  médico  já morreram, só restou o seu nome em um estabelecimento público do município relativo à saúde, e esta história, que ele mesmo  me contou, e relato  hoje à vocês.

                       
                        O Doutor, mesmo após, algumas doses de um bom wyski,  não era homem de mentiras....

                                                       Milton  Hauy 

terça-feira, 31 de julho de 2012

MISTER NIGER


Relembro com saudade aqueles dias que antecediam  o aniversário da Escola Coronel Alfredo Marcondes Cabral de Getulina.

                    Vendo as crianças hoje desfilarem pelas ruas de nossa cidade,  divulgando o “Programa  Escola da Família”, me deu vontade de recontar  - com uma saudade imensa , uma das maiores apresentações , criadas por alunos, e por verdadeiros Amigos da Escola - na história de nossa terra e região.

                    Aconteceu no final da década de 60, juntamente com os amigos Oldenir (Bill) Toledo Nocchi e Pacini  Cirino da Costa, idealizamos promover uma atração diferente naquele ano, proporcionando expectativas em torno das comuns festividades que  a cada ano se realizava.

                    Contamos, também, dentre outras, com a colaboração do colega e amigo Linconl Chinchila Martins, que além de ex-aluno do estabelecimento  festivo, agora estava gerenciando a filial local das Lojas  Riachuelo, que nos deu a publicidade e ainda ofertou um lindo brinde para quem adivinhasse a nacionalidade do “Mister  Niger” – denominação que demos ao artista principal daquele evento memorável – e que quase todos pensavam ser estrangeiro. 

                    Com isso a juventude estudantil de Getulina tornou-se mais vibrante ainda, crescia a grande ansiedade em torno do espetáculo, que no início parecia simples, e que começou a avolumar-se à cada dia , vindo culminar com a chegada de um telegrama – tivemos a ajuda do hoje saudoso Lupércio Becegato,( então Agente do Correio local) e, do nosso irmão Toninho Mengato, que aí se encontra , para juntamente conosco recordar aquela grande manhã, cujo espetáculo foi realizado no Cine  Paroquial  São Luiz (Cinema do Padre) , e que nos fora, naquela ocasião, gentilmente cedido pelo ora pranteado Padre Lupércio Pereira Simões, o Pároco de então, - que dizia : “Chegarei no dia marcado vg pela manhã pt. Abraços pt. Mister  Niger.”

                    Cumpre esclarecer antes, que soubera que um estudante de engenharia possuía uma fantasia premiada em Lins, e que o mesmo morava lá em uma Pensão; tratei logo de procurá-lo ,e ele me emprestou a rica fantasia de um diabo, com rabo e máscara de borracha, além de uma bela capa de cetim em preto e vermelho, enfim uma maravilhosa peça, que de antemão sabia que agradaria em cheio !

                    Mas, como antes, já havíamos brincado com várias pessoas em nossa praça , hipnotizando algumas delas, pairava qualquer coisa no ar, ou melhor, na mente delas, que eu poderia ser o tão esperado artista.

                    Tratamos logo de desfazer essas  idéias, para não quebrar o encanto preparado da surpresa.

                    Havia a necessidade de um aparelho de som, a fim de tocar a música  que usávamos para hipnotizar , e foi o Pixoxó quem nos emprestou uma Sonata – novinha, ainda na caixa, sem uso – para completar o brilho do espetáculo.

                     Certa noite, quando retornava de Lins, por volta das onze horas, o Bil e o Pacine me aguardavam nas proximidades do Fórum , para que fossemos ensaiar e preparar o Salão , para o tão  aguardado Show, que seria na manhã seguinte.

                    Rumamos direto ao Cinema do Padre, vez que ele já nos tinha emprestado as chaves do prédio, e fomos instalar o som, no  majestoso palco que lá havia ( como todo mundo sabe, atualmente o referido cinema não mais existe, dando lugar ao Supermercado Caliani, e o dito palco ficava ali onde hoje está a parte de frios do mencionado estabelecimento comercial).

                    Não cuidamos  de verificar a voltagem do salão com a do aparelho, e eis que quando o Pacini ligou a Sonata na tomada da parede , foi  bruscamente arremessado  com caixa e tudo, acompanhado  de um estrondo, fazendo soltar faíscas  e a pegar fogo no aparelho, que por sorte, logo apagamos, pois havia água nas proximidades. Quase que o fogaréu se propaga até as cortinas, e aí seria o caos... iríamos acabar bem antes com o cinema do Padre, e de forma mais triste...

                    Juntamente com o Pacini e o Bil, caimos nós desesperados...como fazer (?!?) , parece que havíamos estragado a sonata novinha do Pixoxó... e, além de ficarmos sem som, teríamos que pagá-la... sem ter dinheiro...

                    Já se passava da meia noite, quando uma feliz idéia nos alentou... – Vamos até a  “Casa do Rádio” , do senhor Américo Katsumi Aoki que era técnico, entendido no ramo, para ver se ele daria um jeito na coisa – ele era  pai e tio de colegas nossos : Renê, Tustiã, Sábaro , Minoru e outros pertencentes à ilustre Família – a então loja  ficava ali, onde hoje temos o Foto e Vidraçaria do Mirão , na Rua Vergueiro de Lorena.


                    Apesar de notarmos que todos dormiam, acordamos o sr. Américo, que sempre fora prestativo, nos atendendo com aquele inconfundível sorriso oriental, convidando-nos a entrar, e passou a vistoriar o aparelho do Pixoxó, com os seus especiais aparelhos.

                    Para sorte nossa, o estrago, apesar do fogaréu, não havia sido muito, apenas queimara uma pequena peça, pois a voltagem do salão era de 220 e a do aparelho 110 volts., motivo do curto circuito, que nos assustara.

                    Em suma, não tinha no momento a peça certa para substituir a danificada, mas, colocou para tentar sanar temporária e precisamente  uma usada, a fim de pudéssemos usar a Sonata no Show, comprometendo-se a pedir uma peça original, para ser  colocada depois, o que foi feito.

                    Com isso, fomos dormir e prepararmos para o que viria nas próximas horas daquele dia ...

                    Perto do horário de início do Show, de manhã, vimos que nas proximidades do Cinema do Padre, que  a sua frente,   já estava apinhada de estudantes, de ambos os sexos e de todas as idades, num alarido alegre e contagiante, como são  quase todos alegres os alaridos estudantís.

                    Pela cidade, naquela ocasião, também estava sendo realizada uma promoção  com vendas de títulos patrimoniais, que ajudariam na construção da primeira piscina da SAG – entregues pela Diretoria à uma Firma de fora especializada  no gênero , cuja turma  de vendedores se espalhava  por nossa urbe; oportunidade, que pedi à um deles, quando estava abastecendo seu veículo no “Posto Macedo”(onde hoje está o Banespa), para que desse a volta, pois o carro estava com a placa de São Paulo, e não era conhecido pelo nosso pessoal, principalmente o estudantil – e levasse a minha maleta até o cinema, que estaria esperar em frente, pedindo para que ele descesse do carro, acenasse para os alunos, e falasse algumas palavras em castelhano, para iludí-los, contando-lhe sobre o eventual espetáculo que iria se realizar, e ele topou  na hora, sem nada me cobrar pelo trabalho; pedi para que entrasse pela porta da frente, e depois saísse pelos fundos, passando pela Casa paroquial, o que realizou, de forma perfeita.

                    Os estudantes adentraram o local, em seguida, acomodando-se nas poltronas do cinema, cujo palco estava com a sua enorme cortina vermelha, fechada.

                    No início, apresentamos alguns números musicais, e rápidas cenas humorísticas (esquetes) , tendo como protagonistas alguns estudantes da própria escola, que nós havíamos ensaiado antes, para tais atos.

                    Depois... o momento esperado e culminante – contamos também com o auxílio dos então funcionários, hoje tão saudosos, Cridio  Zanco e Lidia da Silva Laraya – enquanto o Cridio , embaixo do palco providenciava uma lata com pólvora, para que logo após o estrondo da bomba que seria acionada,  o Mister Niger aparecesse no meio da fumaça, de  maneira triunfante ( o que  aconteceu, e ficamos sabendo posteriormente, que o Cridião se queimara ao acender o fósforo e por na lata de pólvora, chamuscando-lhe as mãos e o rosto... – como sofrem os artistas e seus auxiliares,nos bastidores,heim ?  Muitas vezes sem ninguém saber....

                    Ao vislumbrarem  no palco aquele diabo, a molecada se assustou, e alguns da platéia, até correram para fora do cinema... com pavor  do que viam...


                    Mister Niger começou hipnotizando pessoas da platéia, que subiam ao palco e sentavam em  várias cadeiras ,ficavam ouvindo a música , tocada pela sonata do Pixoxó, que de som meio fanhoso, lançava no ar  : É tão sublime o amor”, apenas orquestrada.

                    Mas, como  a apresentação já estava combinada com o Bil, o artista tratou logo de dispensar a moçada , deixando os conformes e passando para os finalmentes...


                    O Bil, havia há poucos dias, antes da tal apresentação, passado por uma delicada cirurgia em um dos ouvidos, estando em convalescência, e mesmo assim, compareceu ao espetáculo fingindo ser mero espectador , que fora chamado ao palco, a fim de ser  hipnotizado.


                    Não demorou muito, depois das preliminares introduzidas pelo Mister Niger, para que o Bil  adormecesse....momento em que fora solicitado à platéia um de seus representantes , para a verificação se  ele estava ou não dormindo.

                    Sobe uma das mocinhas, não me lembro quem... (mas sei que o Bil dela jamais esqueceu...) e começa  em dar-lhe uns beliscões, inicialmente nos braços, estes eram fortes - pois o Bil praticava box e vários outros exercícios- depois,  como por azar, ela foi diretamente beliscar uma de suas  orelhas, coincidentemente a que houvera sido operada – gente ! foi um verdadeiro chute no ... braço...digo, apesar de ser com os dedos de uma das suas mãos, um pé na orelha ! –  hoje,  até no falar, ou contar, sinto as dores que sentiu o Bil  naquele momento!... – e ele aguentou firme, sem gemer, mas, via-se cair de seus olhos um montão de lágrimas...

                    Tratei logo de tirar a malvada de cena, e depois apresentamos o que se estava previamente ensaiado, tanto na parte de hipnose, como de telepatia... foi um  enorme sucesso !


                    Aqui  entre  nós,  se tivéssemos continuado com as apresentações (embora mais uma vez, posteriormente,  com igual êxito, a fizemos no Clube Linense      , o que é história para uma outra vez...) por esse Brasil afora, acho que estaríamos  ricos e famosos, tanto é que o tal de Mister “M”, que a TV apresentou, e apresenta  de quando em vez, não dá nem para engraxar a bicanca do Mister Niger !

                    Não posso esquecer de mencionar algumas  outras coisas muito importantes e marcantes : a primeira, que ao ir devolver e agradecer o empréstimo da fantasia do diabo ao estudante de engenharia em Lins, soube que ele havia fugido de lá, por não ter dinheiro para pagar os débitos que contraíra na praça, pois até a dona da pensão ele não pode pagar... enfim, não devolvi a tal fantasia, e considerei o Mister Niger uma singela homenagem ao tal estudante, que talvez, nem chegou a ser engenheiro, e cujo nome nem fiquei sabendo, mas, lhes somos eternamente gratos, esteja onde estiver !

                    A segunda, é que depois. O seu Aoki consertou a Sonata, e ela ficou perfeita ! Devolvemos ao seu dono, com os mais profundos agradecimentos; e o nosso prezado amigo Pedro, o Pixoxó, muitos anos depois morreu,( Deus o tenha !)  sem saber o que tinha acontecido com  o seu aparelho de som , na noite que antecedeu a inesquecível apresentação artística acima narrada.

                    O que restou de bom, além de outras  nossas fantasias, é que, de vez em quando, encontramos  um dos alunos daquela dourada época , e ele nos diz : - “Jamais me esqueci do Mister  Niger ! ou,

                    Aquela apresentação marcou bastante  a nossa juventude, valeu !...”


                                        Milton  Hauy 

domingo, 10 de junho de 2012

DE REPENTE... MAIS UM REPENTE

AH! O mês de junho, das manhãs ardentes, com suas noites tão românticas, tão dolentes, cheias de estórias e histórias, com crendices e disse me disses, fogos de artifícios, músicas, quermesses , os terços  em louvor aos Santos Juninos, quadrilhas,flerts, com olhares trigueiros, das moças, rapazes, homens , mulheres, crianças, na cidade, nas capelas, e nos terreiros das fazendas, que tem e tinham café, que o povo chega de carro, cavalo e à pé...
Isso me faz lembrar, dentre outros, o seu Quinzinho, o sempre pranteado Joaquim Torres Mendes, um homem bom, que fora honesto funcionário municipal, depois aposentado,sempre disposto e sorridente, que marcava as quadrilhas prá gente, em todos os lugares, tanto na cidade, como na roça, sob os olhares apaixonados dos integrantes , que sonhadores  participavam, com emoção e descompassado coração, no compassado ritmo dançante, que nunca sai danossa mente, fazendo o passado virar o presente, e aparecer em cenas deslumbrantes, igualzinhas como acontecera antes...pondo a gente a sonhar confuso, sem nunca despertar...e reaprender a amar...o que ficou no desuso.
E as primas, as amigas, os amigos, os namorados e os variados pares, vão virando rimas, em prosas, sonetos e poemas, preenchendo velhos temas, que vocês tem que aturar, desse poetinha , inveterado sonhador, metido a repentista, que muito amou e viveu querendo ensinar, como é fácil e difícil a gente gostar de quem não gostava da gente, e agora, às vezes até chora, ao ler, nos ouvindo a falar, precisamente aquilo que gostaria de ter feito, ou de ter tido, a oportunidade de realizar...
Lá na festa da roça, mesmo aos que vieram de carroça, corria solto o quentão, passando de mão em mão...e assim como a canjica, a pipoca , o amendoim, os doces e a mandioca...
Ouço, então, cochicho,riso, zunzum,e depois alguém pedindo mais um , prá animação pessoal, ao lado o povão vibra e  grita, é festa no arraial !
Enquanto a sanfona chora, sob a luz do luar, há estrondos  do foguetório, pela noite afora, e os pares continuam a dançar...
As muié rezadeira oram, e cantam o terço ou rosário, na capela diante do santuário...
E a Periquita, que é prendada e bunita , com seu vestido de chita, pede aos Santos, pede aos treis, que a ajude a desencalhar de veis, e logo lhe traga o seu bem amado, “pois, todas as festas, são tristes, sem  ter um amor ao nosso lado”...
Também há os pedidos dos solteiros, velhos,  e feios, que também são gente, e têm coração...que são bonitos por dentro, que lhes ajude Deus, Jesus, Nossa Senhora, atendido os pedidos, intercedidos  pelos Santos Juninos, que façam surgir hoje, agora, o seu pé de meia, ou cara metade, que para amar, não se tem  idade...
Pelo que se vê e se via, ninguém estava querendo ficar prá titio ou titia !...
E o seu  Quinzinho, todo imponente, ia dirigindo e divertindo a gente, em brilhante fulgor, nos belos sons da quadrilha, da sanfona que o seu Néco dedilha, com maestria e furor !...
No alto do mastro tremulam as bandeiras dos Santos: Antônio, Pedro e João, o povo todo festeja... no escuro, um par de jovens se beija, no arrasta pé aqui do chão...
E de longe, se vê e ouve Seu Quinzinho, marcando a quadrilha e comendo romã, gritar sonoramente: “ Balancez ! Tour !  Em Avant ! “...
E a grande fogueira , mesmo ficando pequena (emocionante  cena ! ) ajuda a iluminar a capela, o terreiro, e a alegria  daquele povo festeiro, contagia à todos, animadamente, que vendo terminar a festa presente, vai pensano, triste  e  contente, na festa do próximo  ano !
Aqui  entre  nós,  prá terminá, diga sem medo :
Viva  Santo  Antônio,
                                   São    João  
                                                                       e,  São  Pedro  !


                                                                       Milton  Hauy

domingo, 27 de maio de 2012

JUNHO OUTRA VEZ...


Estamos chegando, novamente, no mês  de junho, já entremeando o novo ano, que sem querer vai ficando, também, velho.
É o mês das manhãs ardentes, como as fogueiras e festas que, durante as festivas e calientes noites, comemoram as datas marcantes  dos Santos , cujas bandeiras , bem enfeitadas, erguemos nos mastros, sob a rajada de aplausos e fogos de artifícios...
O primeiro é Santo Antônio, que dizem ser o santo casamenteiro, e em data de véspera, cuidam as pessoas que necessitam de sua ajuda, de procederem às variadas “simpatias”, ora colocando mel em um prato, e nele o nome da pessoa amada, para que o   sereno e a luz da lua, possam favorecer na realização do desejo almejado; outras, furam uma maçã e depois de colocarem dentro dela, mel, açúcar  e o nome da pessoa desejada, também procuram coloca-la sob a luz da lua, para no dia seguinte verem se a “simpatia” deu certo....
O segundo santo é São João, que aparece na bandeira como um menino loiro, do cabelo encaracolado, com um carneireirinho no colo e, dizem ajudar muita gente em diversos pedidos...
O terceiro santo junino é São Pedro, o santo que possui as chaves do céu, e as tem nas mãos... depende do Pedroca a sua entrada ou não no Paraíso, viu ?
E o povo costuma  festejar durante todo o mês de junho, os três santos, o primeiro no dia 12 e 13, o segundo no dia 24 e o terceiro no dia 29 ou 30, promovendo  as fantásticas e concorridas Festas Juninas : com  rezas, terços, quermesses, barracas, bandeirinhas, prendas, rifas, sorteios, leilões, danças, músicas, quadrilhas, bailes, fogueiras, muitos fogos de artifícios, ”simpatias”, etc.
E os busca-pés, que atormentavam  as moças, fazendo com que elas saíssem correndo  se esconder ?
Também as rodinhas de fogo, que acesas  giravam, giravam, proporcionando um espetáculo maravilhoso, acho que não mais existem ... assim como os balões, que enfeitavam o céu, assanhando a molecada, nas lindas noites juninas, nos ofertando uma visão romântica e colorida, mas, que causavam incêndios, razão de serem proibidos e extintos...
“Pula  fogueira , Yayá... Pula fogueira, Yoyô...
Cuidado para não se queimar...
Olha que a fogueira já queimou
O meu amor...”

Recordamos com imensa saudade, as animadas , concorridas e tradicionais quermesses no largo da capelinha de São João Batista, realizadas durante todo o mês de junho na Vila São João em Getulina.
Aquelas noites frias, além dos enfeites tradicionais aqui em baixo, era enfeitado, também, pela lua , lá em cima, que vagava pelo vasto céu, bordado de estrelas... toda cheia, e nos enchendo de maravilhas, sonhos e ilusões...
Tudo parecia ser mais romântico...
“ As noites de junho, tão lindas...A festa na roça...e o céu enfeitado...Pois, todas as festas são tristes,
Sem   um  amor ao nosso lado...”

Passo a rever os sorrisos das moças, sob os olhares curiosos e apaixonados dos rapazes, circulando , por entre a Praça da Capela, o coreto, e as barracas, todas muito bem enfeitadas , onde haviam pessoas de todas as idades, participando da festa , ouvindo as músicas juninas, ora da Banda Municipal, ora dos alto falantes, entremeadas de ofertas :...”de alguém para alguém, com muito amor...simpatia...ou, carinho...” – os mais íntimos , ou menos, os mais tímidos, através de “Correios Elegantes”, que eram  bilhetinhos de papéis coloridos , enviados por meio da garotada, com as declarações e mensagens de afeição, de um para outro... – daí, muitas vezes, nasceram paixões desenfreadas, que acabavam em encontros, namoros... e até, casamentos...; na maioria, foram apenas, casos passageiros, enveredando por outros caminhos, restando apenas imensas recordações...
“ Capelinha de melão... é de São João...
É de cravo, é de rosa, é de manjericão...”

De entremeio, interrompia-se as músicas e mensagens, para as realizações dos memoráveis leilões, e das cantadas dos bingos, sorteando brindes aos inúmeros participantes, que colaboravam com a reforma e melhoramentos da Capela.

“ Eu garanto que São Pedro, Santo Antônio e São João
São da mesma opinião...(bis)
E, quando um balão for subindo, pro céu estrelado...
Tu podes me dar um beijinho...
Que eu juro que não é pecado...”

Além da grande fogueira, tinha o escorregadio , e até engraçado, pau de sebo, onde a meninada tentava alcançar, no topo, o grande prêmio, mas, a maioria, não conseguia, escorregava e caía... – assim como nós, em realidade, na vida, e, em nossos inatingíveis sonhos...

“Coqueiro, eu te compreendo o sonho inatingível
De quereres subir ao céu...mas, prende-te a raiz...
Esse teu desejo  de querer o impossível...
É igual a este meu, de querer ser  feliz...”

Uma das coisas, que também, foi marcante nas festas juninas da Vila São João, dentre muitas outras, era a Barraca do Quentão, sempre gostoso, feito e servido  pelos eficientes e simpáticos  Cotarellis : Silvio, Orlando e Frederico, sendo que apenas este continua vivo, e talvez, ainda recordando, como nós, dos bons tempos , que já se foram, mas, continuam reluzentes em nossas mentes, aguçando ainda mais no meio de cada ano, quando as rezas, músicas, bombinhas e rojões começam a anunciar a festança novamente, embora em outros lugares, avivando as eternas lembranças...de um tempo distante, mas, como se fosse ontem, ou no  ano que passou...

Aqui entre nós, hoje, vamos encontrar o passado, no tempo presente, buscando no sincero e espontâneo sorriso dos jovens, que vivem  as nossas mesmas emoções, renascendo pois, em outros corações , de maneira diferente, mais moderna, em noites de muita música e luz, mas, descoloridas da ingenuidade , dos segredos, e tabus de antes, cujas perspectivas e expectativas ilusórias, eram anseios e sonhos melhores e, desculpe-me a sinceridade, bem mais bonitos, apesar de tudo...

Chegamos nós, chega você, e chegarão no futuro as pessoas de hoje, com uma bagagem imensa de enormes e ocultas lembranças, que fazem e farão transbordar a saudade de todos, e de tudo que vivemos, rogando à Santo Antônio, São João e São Pedro, que não deixem apagar a grandiosa fogueira, de coisas inesquecíveis, que ardem em nossa mente e em nossos corações...


                                                                                              Milton    Hauy

domingo, 6 de maio de 2012

UMA INESQUECÍVEL MULHER


Era pequeno e você me amava, e eu adorava você !

Tinha um medo danado de perdê-la...
Me  ensinastes  a dar os primeiros passos, a falar as primeiras palavras, respeitar a Deus e ao próximo, orar agradecendo o pão de cada dia...E então, pedia ao Criador para que a protegesse sempre e nunca levasse você embora, para longe de mim...Fiquei doente, passei mal, e você orava com fé, juntamente com o papai e manos, fazendo tudo para salvar-me. Levaram-me à São Paulo de avião, para novas consultas médicas e tratamento (tudo era tão caro, e a vida difícil, mas você fez promessa à Nossa Senhora Aparecida e ela me salvou..
Fostes, anos depois, até a cidade de Aparecida do Norte, me levando junto, cumprir a sua promessa: acender uma vela do tamanho que eu estivesse...
Por mais de 30 anos eu vim até aqui no Cemitério de Getulina,  sem nunca ter morrido ninguém da minha família...
Acompanhava à quase todos os enterros: de recém nascidos, jovens, mocos e moças, idosos, todos parentes de amigos  que nos deixaram, alguns na flor da idade... E como você me havia ensinado a rezar, mamãe, eu rezava por eles... e rezava, também, para que Deus não levasse você de mim...eu continuava tendo um medo doido de perde-la...
E nós seis – papai, você, eu, Salomão Leila e Suraya – éramos tão felizes !
Uma noite, chovia...e, perdemos o nosso papai, apesar de eu ter pedido tanto para que ele, também, vivesse mais e mais...
Como você sofreu mamãe ! Nunca demonstrastes desespero, tinha sempre muita paciência, e um enorme carinho para com todos.
Continuastes a tocar a loja e a cuidar de nós e do nosso lar...
Preocupava-se com todos, inclusive com os outros...quantos namoros e casamentos arranjastes !
Quantos conselhos, recomendações fizestes, reconciliando inúmeros casais, ensinando a arte sublime de saber aceitar, suportar os defeitos alheios, ressaltando as virtudes do próximo e perdoar sempre ! Quantos lares ajudastes a edificar e montar !
Na sua loja, os fregueses compravam sempre com ou sem dinheiro...muitas vezes, sem entrada e mais...nada ! Era nossa mãe, e a verdadeira “mãe dos pobres”, também.
Fostes a mais ativa e antiga comerciante de Getulina. Trabalhastes sempre com afinco, por mais de 70 anos, ora medindo panos, tecidos, ora vendendo móveis, e nem conseguistes a sua tão almejada aposentadoria ! (que injusta, e tola burocracia, heim ?).
Cozinhavas bem, como ninguém ! E  pensar, que quando casastes, não sabias fritar um ovo, sequer !
Os seus saborosos, invejados e nunca imitados pratos culinários, ficaram conhecidos e famosos por todos, não só em nossa terra, como em todo o mundo. A nossa mesa sempre farta, no mínimo eram dez pratos variados, diariamente, tanto no almoço, como no jantar (que gostosura ! ). E, não eras a grande Mestra somente na cozinha árabe, não ! A sua macarronada, o seu arroz-feijão, seus bifes a milanesa ou acebolados, a batatinha, o nhoque, os assados, e outros variados pratos,nunca ninguém conseguirá fazer igual e tão gostoso !
E quando morria alguém na cidade, tanto pobre, como rico, você sempre se preocupou em fazer a comida, e depois enviá-la à família enlutada (pois, dizia que eles, naquele momento estavam em desespero, e não poderiam fazer a alimentação para si, e para os eventuais parentes que vieram acompanhar o féretro...). E lá ia eu, levar paneladas de comidas, que a Dona Meire fizera, para os familiares e amigos do então falecido(a).
A comunidade de Getulina reconheceu seu trabalho e seus feitos beneméritos ! Outorgou-lhe a Câmara Municipal o Título de “Cidadã Getulinense”, e o Rotary Club, homenageou-a, na década de 1980, como a “Mãe do Ano”.
E você, sempre tão bonita, com seus lindos vestidos, cabelos sempre bem penteados, sapatos de saltos bem altos, baton, rouge, e unhas compridas e maravilhosamente esmaltadas (Que elegância, heim? ). Nunca fostes orgulhosa, na sua simplicidade e grandiosidade, eras carinhosa, amiga, caridosa ao extremo !
O tempo passava, e eu adulto, continuava pedindo ao nosso Bom Deus, que não deixasse você morrer, ir embora...que nunca levasse você para longe e mim... eu precisava primeiro me casar, e ser bem mais adulto, para então poder suportar a separação... E quantas vezes você quase nos deixou... Quantas cirurgias, em tão pouco tempo... E cada vez que isso acontecia, eu rezava, fervorosamente, ao nosso Pai do Céu, rogando para que você vivesse mais um final de Ano, mais um Natal, mais uma Páscoa, mais um aniversário, mais um Dia das Mães conosco... E você então melhorava, e nós agradecíamos felizes... nos reunindo à sua volta, na sua bela casa, que por você e o papai, foi edificada com tanto amor e sacrifícios...
E a Dona Meire, continuava a encantar à todos, com a sua carismática simpatia !
Depois... você caiu novamente, mamãe, fraturou o fêmur... nova cirurgia, novas preces para que você sarasse e voltasse a andar. E Ele me atendeu, você melhorou... E nós voltamos a sorrir...
Você, tempos depois, teve nova queda, seus ossos estavam fracos... nova cirurgia... E eu já adulto, casado, com cinco filhos e netos, ainda me sentia criança, e sem forças para suportar a sua eventual ausência... E outra vez pedi à Deus, e fui atendido, você voltou viva para casa...
Como você sofria, mamãe !
E eu relembrava , como você sempre procurou servir, nada querendo em troca.
Que pessoa maravilhosa foi você, mamãe ! ( Sei  que todas as mães são ou foram boas, mas você foi especial, que me desculpem os outros e as outras, a senhora, querida, foi realmente, fora de série, encantadora ! ). O quanto você fez por  mim... por nós... e, como tão pouco fizemos por você !
Mas, ontem à tarde, você resolveu nos deixar... Sei que estava sofrendo muito, querida,  era preciso descansar... mas, nós, egoístas, queríamos que vivesse mais e mais...
Não sei, seu eu não estava  mais rezando direito...mas, só sei que a gente é eternamente  uma criança crescida, e que você, mamãe, nunca envelheceu... Chegara a hora da sua partida...
Como é difícil querer aceitar tudo isso ! É bastante triste !
Que  enorme vazio você deixou, meu amor !
Nem todo o montão de lembranças e saudades que estamos sentindo de você, irão preencher  esse vazio... nunca !
Não há dúvida, que quando você, e ou, sua alma  chegou no céu, por certo,  São Pedro, foi logo lhe dizendo: - “Pode entrar, Dona Meire, a senhora, também, aqui não precisa nem pedir licença...”
Eu sei, que dentro de alguns dias, no firmamento irá brilhar uma nova estrela, linda e maravilhosa, e se olharmos direito, ela se distinguirá das outras, por estar  usando rouge, baton, esmalte, sapatos de saltos altos e, brilhará eternamente,e, pelo jeito, ninguém duvidará que será você, mamãe, que virou, para nos consolar, uma estrela encantada !
Vá...e descanse  em paz, minha  querida !
Adeus !...

                                                        Milton  Hauy