domingo, 2 de setembro de 2012

VAI QUEM SABE ...


Nossa Getulina, na áurea fase  da rubiácea, quando a sua   população era o triplo da  ora existente,  teve , dentre outros bons médicos, um homem iluminado , com seus defeitos e virtudes, pois era mortal, mas, as virtudes  suplantaram e muito os seus eventuais erros, cujo semblante é relembrado por todos que o conheceram, dele se beneficiaram com seus esmerados serviços de  profissional, desfrutaram de sua sincera amizade, e muito aprenderam  com  seus sábios conselhos sobre o viver melhor, razões pela quais  nunca será esquecido!


                        Tinha ele na época, o seu novo corcel amarelo e preto, e em marcha pesada percorria não só as ruas poeirentas e descalças de nossa urbe, como também as  estradas vicinais de nosso município, que como todos sabem, possui uma extensão geral,  de mais de quinhentos quilômetros.

                        Ele não se importava muito com o vil metal, queria auxiliar,  prestar serviços aos seus semelhantes, não distinguindo ricos e pobres, os atendia da mesma maneira , sempre empenhado em ajudá-los, procurando minorar o desespero e o sofrimento  alheio.

                        A qualquer hora , do dia ou da noite, em qualquer lugar, lá ia ele, às vezes até em lombo de burros, cavalgando à caminho do local necessitado, ora para fazer partos, ora para aplicar soros, injeções, curativos , em pacientes, em que   alguns,  via serem portadores das  mais graves doenças.

                        Uma coisa era certa, seus precisos diagnósticos nunca foram contrariados, e quando observava fugir  o caso de sua alçada, encaminhava, imediatamente, o paciente para os maiores centros, inclusive para a Capital do Estado, a fim de se submeterem a exames e tratamentos médicos mais especializados.


                        A sua competência médica ultrapassou fronteiras, não só de nosso Estado, como do nosso País.

                        Relembro, que um fazendeiro rico, morador em nosso  vasto município, foi para o Exterior, a fim de  consultar-se  com médicos estrangeiros, sobre o mal que contraíra, e que temia ser grave.

                        Acho que foi na França, quando após examinado, o especialista lhe perguntou, onde morava ?

                        Respondeu , que morava no Brasil, precisamente, em um município situado  no interior do Estado de São Paulo, cujo nome era Getulina., entre as cidades maiores que eram : Lins e Marília.


                        Estremeceu, admirado o fazendeiro do Brasil, quando o famoso médico estrangeiro lhe disse : - E o senhor veio tratar-se  aqui, sendo que no Brasil, mais precisamente na pequenina Getulina, tem o melhor médico para  cuidar de sua doença ?

                        O senhor  deve conhece-lo, e lhe disse o nome do nosso famoso Clínico Geral... recomendando que voltasse e o procurasse, só assim iria sarar mais cedo...

                        Em  tarde de clima ameno, fui visitá-lo, e durante o bom papo, me contou, que  no início de sua carreira, em uma certa manhã nublada, que a noite anterior havia chovido muito, atendeu ao chamado de uma mocinha, ela  se encontrava aflita, em frente ao portão de sua casa,, solicitando que fosse, de forma imediata  socorrer sua mãe, em Santa América, no Bairro “Vai quem Sabe”, pois a mesma  já se encontrava em trabalho de parto, necessitando da ajuda médica, pois o neném, seu irmãozinho,  estava em delicada posição, que a parteira não estava dando jeito... havia chovido muito à noite, e a estrada apresentava um lameiro considerável...que ela havia pego uma carona e viera até a cidade...


                        O Doutor, pegou seu carro,  sua valise, contendo medicamentos com   alguns instrumentais e rumou , juntamente com a garotinha para o atendimento necessário...

                        Quando se estava para chegar perto do rio, a menina, que era muito falante e esperta, e viera conversando o tempo todo com ele, disse que o seu nome era Rosa, mas chamavam-na  “Rosinha”; depois,   avisou ao médico, para tomar cuidado que a ponte  havia caído, e que ele deveria parar o carro, descer, atravessar o rio , deixar que ela ficasse ali tomando conta do veículo, enquanto ele fosse até a Fazenda Vinte de Maio, arrumar um cavalo e ir socorrer sua mãe e o novo irmãozinho, lá no “Vai quem Sabe”.


                        O Doutor, deixou a menina  lá no seu carro ouvindo o rádio,  e fez o que ela pediu...

                        Na Fazenda Vinte de Maio, emprestou um bom cavalo, que lhe foi arreado rapidamente, e desse mesmo modo tomou rumo que destinava, a fim de auxiliar no parto que se dificultara...


                        Depois, quando chegou, foi  recepcionado pelo marido da parturiente, que agradecia, aos céus, a sua presença ali... dizendo: -  Foi  Deus quem o mandou....

                        O médico disse que fora a sua filha, Rosinha, quem o chamou e o acompanhou  até o rio, relatando o que estava acontecendo e pediu que viesse urgente, o que foi feito....


                        O  sitiante ficou estarrecido.... enquanto o Doutor se dirigia ao quarto, e auxiliado pela velha parteira, com muito sacrifício, fizeram o parto, salvando a mãe e a criança ... Realmente nascera um meninão...(  O médico até pensou...a menina é mesmo danada, advinhou até o sexo do  nascituro !...).


                        Horas depois, tudo mais tranquilo, serviram ao Doutor um bom café, feito no fogão à lenha, com delicioso bolo de fubá,  e dentre os insistentes e reiterados agradecimentos, sentados na sala , quando a comadre falava que fora Deus, Nosso Senhor, que o mandara até aquele local, pois seus  práticos conhecimentos de parteira,  não ajudariam salvar mãe e filho, se o médico não chegasse...


                        O médico disse que fora Rosinha, quem o avisou e chamou que viesse socorrer a mãe e o irmãozinho, pois,  estava prestes à nascer e o caso se complicara ...inclusive ela ficara tomando conta do veículo, lá no outro lado do rio...vez que a ponte caíra...


                        O sitiante, emocionado,  e a parteira admirada, juntos, disseram não ser possível !


                        E o médico, apontando o porta retrato que estava sobre a estante, com a foto da  menina,  disse, foi ela , a Rosinha, quem foi me chamar...


                        Doutor , disse o pai de Rosinha, lembra quando o senhor estava viajando, há mais ou menos cinco anos atrás, minha menina ficou mal e morreu... Rosinha já não vive há mais de cinco anos, não pode ter sido ela quem o chamou !....


                        Foi ela sim, e ficou lá no carro, tomando conta, foi ela sim...


                        Vamos lá !

                        O médico e o pai da  menina, depois do verificarem se estava tudo bem com a mãe e o menino, saíram  e foram até o carro, que se encontrava do outro lado do rio...


                        Lá chegando, começava a chuviscar, o carro estava  com os vidros fechados, a chave no contato, e nele, nem nas adjacências,  ninguém!.... (Apenas, o rádio do carro continuava ligado e,  no momento, em que abriram as portas,  começou a tocar uma linda valsa, cantada por Orlando Silva, cujo nome é Rosa...).



                        Aqui   entre  nós, atualmente, o sitiante não mais mora em nosso município, foi com sua família, talvez,  para o Estado do Paraná, a parteira e o  médico  já morreram, só restou o seu nome em um estabelecimento público do município relativo à saúde, e esta história, que ele mesmo  me contou, e relato  hoje à vocês.

                       
                        O Doutor, mesmo após, algumas doses de um bom wyski,  não era homem de mentiras....

                                                       Milton  Hauy 

4 comentários:

  1. Dr.Milton, se não me engano o Sr fala do querido e saudoso Dr. Nasi, o qual tivemos a felicidade de te-lo em nossa casa em algumas situações, para o atendimento domiciliar que por tantas vezes ele paraticava.

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  2. Correto, Antonio Carlos, falo, do que me contou um dia, o nosso sempre saudoso Dr Archimedes Baptista Nasi, um médico notável, caridoso ao extremo, que poderá ser imitado, mas nunca igualado, feliz de quem teve a dádiva de conhecê-lo, e de ter desfrutado de sua sincera amizade,e sua habilidade profissional, assim como eu...muitas lembranças... imensas e imorredoura saudade...

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  3. Quando pequena, fui muitas vezes socorrida por ele.Nunca vou esquecê-lo. Minhas amígdalas sempre me pregavam peças e era ele que era meu anjo bom e aliviava o meu sofrimento.
    Esta história eu não conhecia.

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  4. É isso ai, Lucelena de Freitas, assim como vc, muitos e muitos foram socorridos por ele, e como vc diz, o anjo bom sempre surgia e ajudava aliviar o nosso sofrimento... com muita humildade e grande competência ! Grato pelo comentário, e receba o meu carinhoso abraço

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