Estamos chegando, novamente, no mês de junho, já entremeando o novo ano, que sem
querer vai ficando, também, velho.
É o mês das manhãs ardentes, como as fogueiras e festas que,
durante as festivas e calientes noites, comemoram as datas marcantes dos Santos , cujas bandeiras , bem enfeitadas,
erguemos nos mastros, sob a rajada de aplausos e fogos de artifícios...
O primeiro é Santo Antônio, que dizem ser o santo
casamenteiro, e em data de véspera, cuidam as pessoas que necessitam de sua
ajuda, de procederem às variadas “simpatias”, ora colocando mel em um prato, e
nele o nome da pessoa amada, para que o sereno e a luz da lua, possam favorecer na
realização do desejo almejado; outras, furam uma maçã e depois de colocarem dentro
dela, mel, açúcar e o nome da pessoa
desejada, também procuram coloca-la sob a luz da lua, para no dia seguinte
verem se a “simpatia” deu certo....
O segundo santo é São João, que aparece na bandeira como um
menino loiro, do cabelo encaracolado, com um carneireirinho no colo e, dizem
ajudar muita gente em diversos pedidos...
O terceiro santo junino é São Pedro, o santo que possui as
chaves do céu, e as tem nas mãos... depende do Pedroca a sua entrada ou não no
Paraíso, viu ?
E o povo costuma festejar
durante todo o mês de junho, os três santos, o primeiro no dia 12 e 13, o
segundo no dia 24 e o terceiro no dia 29 ou 30, promovendo as fantásticas e concorridas Festas Juninas :
com rezas, terços, quermesses, barracas,
bandeirinhas, prendas, rifas, sorteios, leilões, danças, músicas, quadrilhas,
bailes, fogueiras, muitos fogos de artifícios, ”simpatias”, etc.
E os busca-pés, que atormentavam as moças, fazendo com que elas saíssem correndo
se esconder ?
Também as rodinhas de fogo, que acesas giravam, giravam, proporcionando um
espetáculo maravilhoso, acho que não mais existem ... assim como os balões, que
enfeitavam o céu, assanhando a molecada, nas lindas noites juninas, nos ofertando
uma visão romântica e colorida, mas, que causavam incêndios, razão de serem
proibidos e extintos...
“Pula fogueira ,
Yayá... Pula fogueira, Yoyô...
Cuidado para não se queimar...
Olha que a fogueira já queimou
O meu amor...”
Recordamos com imensa saudade, as animadas , concorridas e
tradicionais quermesses no largo da capelinha de São João Batista, realizadas
durante todo o mês de junho na Vila São João em Getulina.
Aquelas noites frias, além dos enfeites tradicionais aqui em
baixo, era enfeitado, também, pela lua , lá em cima, que vagava pelo vasto céu,
bordado de estrelas... toda cheia, e nos enchendo de maravilhas, sonhos e
ilusões...
Tudo parecia ser mais romântico...
“ As noites de junho, tão lindas...A festa na roça...e o céu
enfeitado...Pois, todas as festas são tristes,
Sem um amor
ao nosso lado...”
Passo a rever os sorrisos das moças, sob os olhares curiosos
e apaixonados dos rapazes, circulando , por entre a Praça da Capela, o coreto,
e as barracas, todas muito bem enfeitadas , onde haviam pessoas de todas as
idades, participando da festa , ouvindo as músicas juninas, ora da Banda Municipal,
ora dos alto falantes, entremeadas de ofertas :...”de alguém para alguém, com
muito amor...simpatia...ou, carinho...” – os mais íntimos , ou menos, os mais
tímidos, através de “Correios Elegantes”, que eram bilhetinhos de papéis coloridos , enviados
por meio da garotada, com as declarações e mensagens de afeição, de um para
outro... – daí, muitas vezes, nasceram paixões desenfreadas, que acabavam em
encontros, namoros... e até, casamentos...; na maioria, foram apenas, casos
passageiros, enveredando por outros caminhos, restando apenas imensas
recordações...
“ Capelinha de melão... é de São João...
É de cravo, é de rosa, é de manjericão...”
De entremeio, interrompia-se as músicas e mensagens, para as
realizações dos memoráveis leilões, e das cantadas dos bingos, sorteando
brindes aos inúmeros participantes, que colaboravam com a reforma e
melhoramentos da Capela.
“ Eu garanto que São Pedro, Santo Antônio e São João
São da mesma opinião...(bis)
E, quando um balão for subindo, pro céu estrelado...
Tu podes me dar um beijinho...
Que eu juro que não é pecado...”
Além da grande fogueira, tinha o escorregadio , e até
engraçado, pau de sebo, onde a meninada tentava alcançar, no topo, o grande
prêmio, mas, a maioria, não conseguia, escorregava e caía... – assim como nós,
em realidade, na vida, e, em nossos inatingíveis sonhos...
“Coqueiro, eu te compreendo o sonho inatingível
De quereres subir ao céu...mas, prende-te a raiz...
Esse teu desejo de
querer o impossível...
É igual a este meu, de querer ser feliz...”
Uma das coisas, que também, foi marcante nas festas juninas
da Vila São João, dentre muitas outras, era a Barraca do Quentão, sempre
gostoso, feito e servido pelos eficientes
e simpáticos Cotarellis : Silvio,
Orlando e Frederico, sendo que apenas este continua vivo, e talvez, ainda
recordando, como nós, dos bons tempos , que já se foram, mas, continuam
reluzentes em nossas mentes, aguçando ainda mais no meio de cada ano, quando as
rezas, músicas, bombinhas e rojões começam a anunciar a festança novamente,
embora em outros lugares, avivando as eternas lembranças...de um tempo
distante, mas, como se fosse ontem, ou no
ano que passou...
Aqui entre nós, hoje, vamos encontrar o passado, no tempo
presente, buscando no sincero e espontâneo sorriso dos jovens, que vivem as nossas mesmas emoções, renascendo pois, em
outros corações , de maneira diferente, mais moderna, em noites de muita música
e luz, mas, descoloridas da ingenuidade , dos segredos, e tabus de antes, cujas
perspectivas e expectativas ilusórias, eram anseios e sonhos melhores e,
desculpe-me a sinceridade, bem mais bonitos, apesar de tudo...
Chegamos nós, chega você, e chegarão no futuro as pessoas de
hoje, com uma bagagem imensa de enormes e ocultas lembranças, que fazem e farão
transbordar a saudade de todos, e de tudo que vivemos, rogando à Santo Antônio,
São João e São Pedro, que não deixem apagar a grandiosa fogueira, de coisas
inesquecíveis, que ardem em nossa mente e em nossos corações...
Milton Hauy
As lembranças e a saudade bateram fortes ao ler o seu texto.Você é pródigo em dizer coisas que nos emocionam. Também estive naquelas quermesses mas era ainda muito pequena. Nas minhas lembranças bailam juntos muitos sons, o vozerio das pessoas, os leilões, os cheiros, os sabores... Obrigada pela enxurrada de imagens que você despertou em mim.
ResponderExcluirPrezada amiga Lucelena de Freitas, agradeço comovido o seu comentário, demonstrando que a sua alma romântica, vibrou junto com as minhas recordações;um forte abraç
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