domingo, 6 de maio de 2012

UMA INESQUECÍVEL MULHER


Era pequeno e você me amava, e eu adorava você !

Tinha um medo danado de perdê-la...
Me  ensinastes  a dar os primeiros passos, a falar as primeiras palavras, respeitar a Deus e ao próximo, orar agradecendo o pão de cada dia...E então, pedia ao Criador para que a protegesse sempre e nunca levasse você embora, para longe de mim...Fiquei doente, passei mal, e você orava com fé, juntamente com o papai e manos, fazendo tudo para salvar-me. Levaram-me à São Paulo de avião, para novas consultas médicas e tratamento (tudo era tão caro, e a vida difícil, mas você fez promessa à Nossa Senhora Aparecida e ela me salvou..
Fostes, anos depois, até a cidade de Aparecida do Norte, me levando junto, cumprir a sua promessa: acender uma vela do tamanho que eu estivesse...
Por mais de 30 anos eu vim até aqui no Cemitério de Getulina,  sem nunca ter morrido ninguém da minha família...
Acompanhava à quase todos os enterros: de recém nascidos, jovens, mocos e moças, idosos, todos parentes de amigos  que nos deixaram, alguns na flor da idade... E como você me havia ensinado a rezar, mamãe, eu rezava por eles... e rezava, também, para que Deus não levasse você de mim...eu continuava tendo um medo doido de perde-la...
E nós seis – papai, você, eu, Salomão Leila e Suraya – éramos tão felizes !
Uma noite, chovia...e, perdemos o nosso papai, apesar de eu ter pedido tanto para que ele, também, vivesse mais e mais...
Como você sofreu mamãe ! Nunca demonstrastes desespero, tinha sempre muita paciência, e um enorme carinho para com todos.
Continuastes a tocar a loja e a cuidar de nós e do nosso lar...
Preocupava-se com todos, inclusive com os outros...quantos namoros e casamentos arranjastes !
Quantos conselhos, recomendações fizestes, reconciliando inúmeros casais, ensinando a arte sublime de saber aceitar, suportar os defeitos alheios, ressaltando as virtudes do próximo e perdoar sempre ! Quantos lares ajudastes a edificar e montar !
Na sua loja, os fregueses compravam sempre com ou sem dinheiro...muitas vezes, sem entrada e mais...nada ! Era nossa mãe, e a verdadeira “mãe dos pobres”, também.
Fostes a mais ativa e antiga comerciante de Getulina. Trabalhastes sempre com afinco, por mais de 70 anos, ora medindo panos, tecidos, ora vendendo móveis, e nem conseguistes a sua tão almejada aposentadoria ! (que injusta, e tola burocracia, heim ?).
Cozinhavas bem, como ninguém ! E  pensar, que quando casastes, não sabias fritar um ovo, sequer !
Os seus saborosos, invejados e nunca imitados pratos culinários, ficaram conhecidos e famosos por todos, não só em nossa terra, como em todo o mundo. A nossa mesa sempre farta, no mínimo eram dez pratos variados, diariamente, tanto no almoço, como no jantar (que gostosura ! ). E, não eras a grande Mestra somente na cozinha árabe, não ! A sua macarronada, o seu arroz-feijão, seus bifes a milanesa ou acebolados, a batatinha, o nhoque, os assados, e outros variados pratos,nunca ninguém conseguirá fazer igual e tão gostoso !
E quando morria alguém na cidade, tanto pobre, como rico, você sempre se preocupou em fazer a comida, e depois enviá-la à família enlutada (pois, dizia que eles, naquele momento estavam em desespero, e não poderiam fazer a alimentação para si, e para os eventuais parentes que vieram acompanhar o féretro...). E lá ia eu, levar paneladas de comidas, que a Dona Meire fizera, para os familiares e amigos do então falecido(a).
A comunidade de Getulina reconheceu seu trabalho e seus feitos beneméritos ! Outorgou-lhe a Câmara Municipal o Título de “Cidadã Getulinense”, e o Rotary Club, homenageou-a, na década de 1980, como a “Mãe do Ano”.
E você, sempre tão bonita, com seus lindos vestidos, cabelos sempre bem penteados, sapatos de saltos bem altos, baton, rouge, e unhas compridas e maravilhosamente esmaltadas (Que elegância, heim? ). Nunca fostes orgulhosa, na sua simplicidade e grandiosidade, eras carinhosa, amiga, caridosa ao extremo !
O tempo passava, e eu adulto, continuava pedindo ao nosso Bom Deus, que não deixasse você morrer, ir embora...que nunca levasse você para longe e mim... eu precisava primeiro me casar, e ser bem mais adulto, para então poder suportar a separação... E quantas vezes você quase nos deixou... Quantas cirurgias, em tão pouco tempo... E cada vez que isso acontecia, eu rezava, fervorosamente, ao nosso Pai do Céu, rogando para que você vivesse mais um final de Ano, mais um Natal, mais uma Páscoa, mais um aniversário, mais um Dia das Mães conosco... E você então melhorava, e nós agradecíamos felizes... nos reunindo à sua volta, na sua bela casa, que por você e o papai, foi edificada com tanto amor e sacrifícios...
E a Dona Meire, continuava a encantar à todos, com a sua carismática simpatia !
Depois... você caiu novamente, mamãe, fraturou o fêmur... nova cirurgia, novas preces para que você sarasse e voltasse a andar. E Ele me atendeu, você melhorou... E nós voltamos a sorrir...
Você, tempos depois, teve nova queda, seus ossos estavam fracos... nova cirurgia... E eu já adulto, casado, com cinco filhos e netos, ainda me sentia criança, e sem forças para suportar a sua eventual ausência... E outra vez pedi à Deus, e fui atendido, você voltou viva para casa...
Como você sofria, mamãe !
E eu relembrava , como você sempre procurou servir, nada querendo em troca.
Que pessoa maravilhosa foi você, mamãe ! ( Sei  que todas as mães são ou foram boas, mas você foi especial, que me desculpem os outros e as outras, a senhora, querida, foi realmente, fora de série, encantadora ! ). O quanto você fez por  mim... por nós... e, como tão pouco fizemos por você !
Mas, ontem à tarde, você resolveu nos deixar... Sei que estava sofrendo muito, querida,  era preciso descansar... mas, nós, egoístas, queríamos que vivesse mais e mais...
Não sei, seu eu não estava  mais rezando direito...mas, só sei que a gente é eternamente  uma criança crescida, e que você, mamãe, nunca envelheceu... Chegara a hora da sua partida...
Como é difícil querer aceitar tudo isso ! É bastante triste !
Que  enorme vazio você deixou, meu amor !
Nem todo o montão de lembranças e saudades que estamos sentindo de você, irão preencher  esse vazio... nunca !
Não há dúvida, que quando você, e ou, sua alma  chegou no céu, por certo,  São Pedro, foi logo lhe dizendo: - “Pode entrar, Dona Meire, a senhora, também, aqui não precisa nem pedir licença...”
Eu sei, que dentro de alguns dias, no firmamento irá brilhar uma nova estrela, linda e maravilhosa, e se olharmos direito, ela se distinguirá das outras, por estar  usando rouge, baton, esmalte, sapatos de saltos altos e, brilhará eternamente,e, pelo jeito, ninguém duvidará que será você, mamãe, que virou, para nos consolar, uma estrela encantada !
Vá...e descanse  em paz, minha  querida !
Adeus !...

                                                        Milton  Hauy 

4 comentários:

  1. Lindo! Emocionante! Esta foi a mais bela homenagem que já li. Toda vez que olhar para o céu tentarei encontrar essa estrela tão charmosa de uma mãe tão querida.

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  2. Minha prezada amiga Lucelena de Freitas, me comove, a manifestação expedida em seu belo comentário acima; um carinhoso e agradecido abraço

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  3. MILTON HJ LI SUA MENSAGEM À SUA MAE, ACHEI MARAVILHOSA QTOS FILHOS HJ PERDIDOS NESTE MUNDO LOUCO DE DROGAS E CRIMES DEVERIAM LER E SEGUIR O EXEMPLO POIUS ASSIM NÃO TERIAMOS TANTAS MALDADES - ABRAÇOS ZE BEREBA SEU AMIGO DE INFANCIA

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  4. Meu estimado amigo Zé Bereba, agradeço o seu belo comentário, onde associa exemplo dignificante do mundo mau, que na nossa infante-juventude não existia, pois , realmente, nós éramos obrigados a ser feliz...

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