quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

O HOMEM DA CAPA PRETA

                   Vai longe o tempo em que,  na nossa  juventude,  se falava na aparição de seres sobrenaturais, não só nas ficções do cinema, livros e revistas, como na realidade,  em outras, e principalmente, em nossa cidade...





                   Isso nos apavorava de medo  !



                   E não era só a criançada que tremia, como também muitos adultos, de todas as idades.



                   Às vezes, o Onofre, aparecia em nossa roda dizendo sobre a aparição,  ali no pasto do outro lado do rio, de uma mula sem cabeça... ele teria visto o animal, numa noite de sexta feira, quando voltava do chiqueiro de porcos que mantinham lá no pasto do seu Paulino  Di Lello...



                   Dizia mais,  que ela corria atrás da gente, dando coices para todo lado...



                   E nós insistíamos com o  Norfo  : - Mas ela não tem mesmo cabeça ? É uma mula sem cabeça ?!?



                   E ele afirmava, categoricamente : -  Claro que é ... e  tem até uma estrela na testa.... (!!!!).



                   Todos riam... mas, o  medinho  não desgrudava da gente...



                   Era notícia que vinha  do Lobisomem  lá do Vencaia... da  Noiva que subia a Lacerda Franco passando  antes pela ponte  lá de baixo... do Saci Pererê, lá do Macucos... das Assombrações lá do Vinte de Maio.... da Moça do Baile, perto da Caixa D’Água... enfim dezenas de outras estórias, que deixavam a molecada  pálida  de pavor...



                   Mas, eis que certa noite, quando estávamos no final das férias, e  brincando de salva,  nos escondendo nos mais escuros esconderijos da Rua Albuquerque Lins, o Bentinho e o Carabina viram um vulto estranho passar por entre uns pés de mamonas, no pasto que ia até o Matadouro...



                   Fugiram aterrorizados... era o Homem da Capa Preta, pois ela reluzia mesmo na escuridão... e  após contar para os demais meninos, a brincadeira acabou mais cedo... todos voltaram , muito assustados , para casa...





                   Dias depois, ouvimos outros comentários sobre a aparição do Homem da Capa Preta, por volta das onze horas da noite...



                   Reiniciaram-se as aulas, e o Bentinho, juntamente com  outros estudantes, viajavam  para estudar em Lins, iam às 18,00 e retornavam  às 23,00 horas.



                   O Bentinho não se conformava em ter fugido naquela outra noite ...



                   E  após o final de suas aulas, numa sexta feira, retornando para Getulina,  resolveu  ele, após deixar os livros em sua casa, descer até a Rua Albuquerque Lins, munido de um canivete (talvez, o do cabo marrom...), onde não havia quase ninguém...



                   Foi até a casa do Caraba, e pediu  para ele lhe acompanhar até as proximidades do lugar que  haviam avistado, dias atrás,  o Homem da Capa Preta...





                   O relógio da matriz anunciava em uma badalada que eram 11,30 horas da noite...





                   Ventava , e os ramos das árvores balançavam... a luz do poste mais próximo, começou a ficar distante... a lua era cheia, e ajudava iluminar a rua e os caminhos escuros que estavam percorrendo ...



                   A cidade parecia inteirinha dormir... e os dois moços caminhavam, até que o Carabina disse ao Bentinho, que  não estava passando bem (cagando de medo)  e iria voltar... e voltaram...

Bentinho deixou o Carabina  no portão de casa, e retornou só para a

sua residência...

                   Mas, eis que, senão quando, o relógio da Matriz dava as suas doze badaladas... avisando ser meia noite, e o Bentinho estava próximo do portão do  enorme quintal de sua casa, eis que lhe surge a frente, o Homem da Capa Preta!...



                   Bentinho sentiu as pernas bambearem, quis correr, mas as pernas pareciam não ajudar... estava admirado com a cena que presenciava...



                   Virando  para os lados, ninguém mais se via, pensou em gritar mas, faltou-lhe  o som da voz... olhava fixamente para o vulto negro, de capuz cobrindo-lhe o rosto,  luvas e botas  pretas,  à poucos metros dele...



                   Nisso o vulto começou a abrir a sua vasta capa de cetim negro... os olhos de Bentinho se arregalaram...o corpo estava nu embaixo da reluzente  capa...



                   E o Bentinho viu que o Homem da Capa Preta..., nada mais   era... que uma Mulher !



                   Seu  corpo era   bem  feito, lindo de morrer...



                   Ela abriu, mais ainda,  a sua capa, e sem querer,  Bentinho se viu  envolvido, com ela, em ardente abraço...



                   Aqui  entre nós, a sequência  ocorrida naquela noite, fica por conta da sua imaginação... pois a verdade, nem sempre pode ser dita, e segredos não devem ser revelados...
                                              
                                                                                                      Milton  Hauy

2 comentários:

  1. Muito interessante! Esta história eu não conhecia. Obrigada por me mostrar mais uma faceta da minha Getulina.

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  2. Lucelena, em Getulina, já teve coisas, que até Deus duvida...Muitas histórias e estórias, vamos deixar para o nosso livro, que lançaremos brevemente...fico-lhe grato, mais uma vez, pela preciosa atenção, e mando-lhe o meu abraço fraternal

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