No mês passado, cerraram suas portas de vez, o Bazar do seu Alípio, que por 58 anos atendeu com dedicação, simpatia e apreço a sua vasta clientela.
Comprara o mesmo , no ano de 1950, do senhor Arthur de Oliveira Machado, um simpático comerciante, que ficara provecto e solteirão, e depois de alguns anos aqui falecera, e está sepultado em nossa Necrópole.
Em prédio alugado, situado à Rua Dr. Carlos de Campos, n. 402 ( onde hoje está a Panificadora Central , do Alfinete) a Livraria e Bazar XV, iniciou suas atividades comerciais , em nossa cidade, sob a responsabilidade da firma Mattos & Cunha (Alípio Honório de Mattos e Darcy Gonçalves Cunha); alguns anos depois, a firma comercial passou a denominar-se : Mattos & Barbosa(Alípio e Celso Barbosa, que adquirira sua parte do Darcy), e finalmente, tempos depois o Alípio adquiriu a parte do seu sócio e tornou-se seu único proprietário, sendo então a firma exclusiva de Alípio H. Mattos, que mais tarde instalou-se em prédio próprio, na mesma Rua Dr. Carlos de Campos, n. 534.
A maioria, assim como nós, quer queira, quer não queira, volta a ser criança ao lembrar da Livraria e Bazar XV, o Bazar do seu Alípio, pois ali , ao olharmos suas vitrines , nos transportávamos , em nossas doces fantasias, para um mundo encantado, que só a mente infantil pode idealizar, de forma tão perfeita, causando inveja aos adultos.
Era no Bazar XV que o Papai Noel, geralmente, pegava os nossos sonhados presentes de Natal.
Ali ficavam expostas as nossas bolas de futebol, tanto as de borracha, como as de capotão , que muitos anos depois, evoluíram criando válvulas, e surgindo as de plástico.
As bonecas das meninas, desde as de pano, como as de massa, plástico, e depois as de porcelana e resina; bercinhos, guarda roupas , mamadeiras, pentes, espelhos e escovas, fogões, geladeiras, bules, chaleiras, panelas e prateleiras, garfinhos, colheres e pratos , de latas, resinas e plásticos, para brincarem de casinha...
Os carrinhos, caminhões, jardineiras, tratores, aviões , trens, piões de latas, de madeira, fieiras, bilboquê (brinquedo consistente numa bola de madeira, com um furo no centro e presa por um cordel a um bastonete no qual ela deve encaixar), os cavalos de pau (que vieram dar trégua aos cabos, que perdiam as vassouras das mamães), os patinetes , soldadinhos de chumbo, jogos de botões, feitos de plástico, que vieram evitar o sumiço dos botões das capas do papai e do vovô; bicicletas de três rodas (que viraram triciclos ou motocas), as bicicletas de duas rodas , (que antes só tinham , para alugar na Oficina e Bicicletaria do Cannazaro); enfim uma infinidade de outros brinquedos, sendo que alguns não mais existem , outros foram modernizados, até os mais sofisticados : à pilha, bateria, elétrico, controle remoto, etc.
No Bazar do seu Alípio, o bom baiano, homem sempre bem disposto, pândego, alegre, colaborador em todas as campanhas beneficentes, escolares e até nas particulares. O Sub-Delegado enérgico, o caminhoneiro eficaz, o motorista de praça prestativo, o vereador batalhador, o chefe de família carinhoso, o amigo fiel, que tornou-se o comerciante de fama. Foi ele quem havia guardado após a extinção do Clube Atlético 9 de Julho, o capacete do Herói Constitucionalista, que atualmente se acha exposto na Praça Nove de Julho em Getulina. No seu estabelecimento, também, se comprava com ou sem dinheiro, mandando marcar (contas que se pagava, quando podia ou queria...). Era o local predileto para se comprar os presentes de aniversários, casamentos, amigo secreto, e outras ocasiões festivas, pois havia variado e amplo estoque , com preços módicos e convidativos.
Também comprávamos, formando enormes filas, os materiais escolares, a primeira cartilha, os primeiros livros, lápis preto e coloridos, canetas com pena e tintas de escrever, as bolsas escolares de couro( hoje mochilas de plástico ou lonas); depois vieram as canetas-tinteiro (Park 51, Sheaffers, e outras marcas), até chegarem as canetas Bic e similares. Os fogos de artifício, as nossas bombinhas , traques, as fitas com “peido de véia”, para brincarmos nas festas juninas.
Havia também no Bazar a parte ou seção de revistas e jornais, onde cada freguês adquiria gibís ou gurís, em quadrinhos com os famosos heróis do cinema e do rádio, depois da TV; revistas da época : O Cruzeiro, Manchete, do Rádio; Jornais : O Estadão, O Tempo, Folha de São Paulo, Gazeta Esportiva, Folha da Tarde, Notícias Populares, e outros.
Lembramos dos auxiliares do Bazar XV, alguns cujos pais pediam ao seu Alípio que lhes desse o primeiro emprego : Nivaldo (Budê) , Cidinho ou Cidão de Carvalho, Edmilson , Cesar, Joca, Valdeci, Arthurzinho, Julio, Paulinho, Rogério, Ademir, Pirulito, Apaga-Vela, Goiaba, Fabiano, e as moças : Silvana, Sueli, Alessandra, Rita, Cidinha Rocha, Solange, Leandra, Cícera, Carla, e por fim Letheya, e outros cuja memória não alcançou no momento, mas, que juntamente com as pessoas citadas, lá aprenderam e trabalharam com afinco, tornando-se muitas delas, atualmente, profissionais e proprietários de renome, enfim pessoas capacitadas, todas idôneas, e de responsabilidade invejável, tanto no comércio, como nas lides domésticas.
Aqui entre nós, o braço direito do Seu Alípio, desde 1951, sempre foi a sua funcionária Jandira Zabeu, que após a sua viuves, tornou-se sua esposa e dedicada companheira, até os seus últimos dias, em 2007, dando depois sequencia comercial nos negócios, até os meados deste ano, de 2008 quando se resolveu encerrar as atividades do grande Bazar, da Livraria e Bazar XV, cujos jovens de ontem e de hoje guardam com imenso carinho, boas recordações, do Bazar das nossas ilusões , em cujas prateleiras e vitrines estavam também os nossos sonhos infanto-juvenil, cujo tempo implacável, certamente, jamais irá conseguir apagar de nossa mente , nem do nosso coração, onde irá permanecer uma imorredoura saudade, traduzida nesta nossa singela homenagem.
Que memória! Morei perto da casa do Seu Alípio, na Wenceslau Brás.Era uma pessoa muito querida.Amei ler seu texto.Continue!
ResponderExcluirLucelena de Freitas, vc me comove com o seu comentário sincero e saudoso, que nos anima a escrever mais, rebuscando no fundo do nosso baú, outras histórias e estórias de nossa terrinha, onde tantas coisas aconteceram de bom
ResponderExcluir, mas, que o tempo implacável insiste em sepultá-las...grato pela sua preciosa atenção, e de possuir uma alma romântica que se iguala à nossa... um carinhoso abraço