Nossa
Getulina, na áurea fase da rubiácea,
quando a sua população era o triplo
da ora existente, teve , dentre outros bons médicos, um homem
iluminado , com seus defeitos e virtudes, pois era mortal, mas, as
virtudes suplantaram e muito os seus
eventuais erros, cujo semblante é relembrado por todos que o conheceram, dele se
beneficiaram com seus esmerados serviços de
profissional, desfrutaram de sua sincera amizade, e muito
aprenderam com seus sábios conselhos sobre o viver melhor,
razões pela quais nunca será esquecido!
Tinha
ele na época, o seu novo corcel amarelo e preto, e em marcha pesada percorria não
só as ruas poeirentas e descalças de nossa urbe, como também as estradas vicinais de nosso município, que
como todos sabem, possui uma extensão geral,
de mais de quinhentos quilômetros.
Ele
não se importava muito com o vil metal, queria auxiliar, prestar serviços aos seus semelhantes, não
distinguindo ricos e pobres, os atendia da mesma maneira , sempre empenhado em
ajudá-los, procurando minorar o desespero e o sofrimento alheio.
A
qualquer hora , do dia ou da noite, em qualquer lugar, lá ia ele, às vezes até
em lombo de burros, cavalgando à caminho do local necessitado, ora para fazer
partos, ora para aplicar soros, injeções, curativos , em pacientes, em que alguns,
via serem portadores das mais
graves doenças.
Uma
coisa era certa, seus precisos diagnósticos nunca foram contrariados, e quando
observava fugir o caso de sua alçada,
encaminhava, imediatamente, o paciente para os maiores centros, inclusive para
a Capital do Estado, a fim de se submeterem a exames e tratamentos médicos mais
especializados.
A
sua competência médica ultrapassou fronteiras, não só de nosso Estado, como do
nosso País.
Relembro,
que um fazendeiro rico, morador em nosso
vasto município, foi para o Exterior, a fim de consultar-se
com médicos estrangeiros, sobre o mal que contraíra, e que temia ser
grave.
Acho
que foi na França, quando após examinado, o especialista lhe perguntou, onde
morava ?
Respondeu
, que morava no Brasil, precisamente, em um município situado no interior do Estado de São Paulo, cujo nome
era Getulina., entre as cidades maiores que eram : Lins e Marília.
Estremeceu,
admirado o fazendeiro do Brasil, quando o famoso médico estrangeiro lhe disse :
- E o senhor veio tratar-se aqui, sendo
que no Brasil, mais precisamente na pequenina Getulina, tem o melhor médico
para cuidar de sua doença ?
O
senhor deve conhece-lo, e lhe disse o
nome do nosso famoso Clínico Geral... recomendando que voltasse e o procurasse,
só assim iria sarar mais cedo...
Em tarde de clima ameno, fui visitá-lo, e
durante o bom papo, me contou, que no
início de sua carreira, em uma certa manhã nublada, que a noite anterior havia
chovido muito, atendeu ao chamado de uma mocinha, ela se encontrava aflita, em frente ao portão de
sua casa,, solicitando que fosse, de forma imediata socorrer sua mãe, em Santa América, no Bairro
“Vai quem Sabe”, pois a mesma já se
encontrava em trabalho de parto, necessitando da ajuda médica, pois o neném,
seu irmãozinho, estava em delicada
posição, que a parteira não estava dando jeito... havia chovido muito à noite,
e a estrada apresentava um lameiro considerável...que ela havia pego uma carona
e viera até a cidade...
O
Doutor, pegou seu carro, sua valise,
contendo medicamentos com alguns
instrumentais e rumou , juntamente com a garotinha para o atendimento
necessário...
Quando
se estava para chegar perto do rio, a menina, que era muito falante e esperta,
e viera conversando o tempo todo com ele, disse que o seu nome era Rosa, mas
chamavam-na “Rosinha”; depois, avisou ao médico, para tomar cuidado que a
ponte havia caído, e que ele deveria
parar o carro, descer, atravessar o rio , deixar que ela ficasse ali tomando
conta do veículo, enquanto ele fosse até a Fazenda Vinte de Maio, arrumar um
cavalo e ir socorrer sua mãe e o novo irmãozinho, lá no “Vai quem Sabe”.
O
Doutor, deixou a menina lá no seu carro
ouvindo o rádio, e fez o que ela
pediu...
Na
Fazenda Vinte de Maio, emprestou um bom cavalo, que lhe foi arreado
rapidamente, e desse mesmo modo tomou rumo que destinava, a fim de auxiliar no
parto que se dificultara...
Depois,
quando chegou, foi recepcionado pelo
marido da parturiente, que agradecia, aos céus, a sua presença ali... dizendo:
- Foi
Deus quem o mandou....
O
médico disse que fora a sua filha, Rosinha, quem o chamou e o acompanhou até o rio, relatando o que estava acontecendo
e pediu que viesse urgente, o que foi feito....
O sitiante ficou estarrecido.... enquanto o
Doutor se dirigia ao quarto, e auxiliado pela velha parteira, com muito
sacrifício, fizeram o parto, salvando a mãe e a criança ... Realmente nascera
um meninão...( O médico até pensou...a
menina é mesmo danada, advinhou até o sexo do
nascituro !...).
Horas
depois, tudo mais tranquilo, serviram ao Doutor um bom café, feito no fogão à
lenha, com delicioso bolo de fubá, e
dentre os insistentes e reiterados agradecimentos, sentados na sala , quando a
comadre falava que fora Deus, Nosso Senhor, que o mandara até aquele local,
pois seus práticos conhecimentos de
parteira, não ajudariam salvar mãe e
filho, se o médico não chegasse...
O
médico disse que fora Rosinha, quem o avisou e chamou que viesse socorrer a mãe
e o irmãozinho, pois, estava prestes à
nascer e o caso se complicara ...inclusive ela ficara tomando conta do veículo,
lá no outro lado do rio...vez que a ponte caíra...
O
sitiante, emocionado, e a parteira
admirada, juntos, disseram não ser possível !
E
o médico, apontando o porta retrato que estava sobre a estante, com a foto
da menina, disse, foi ela , a Rosinha, quem foi me
chamar...
Doutor
, disse o pai de Rosinha, lembra quando o senhor estava viajando, há mais ou
menos cinco anos atrás, minha menina ficou mal e morreu... Rosinha já não vive
há mais de cinco anos, não pode ter sido ela quem o chamou !....
Foi
ela sim, e ficou lá no carro, tomando conta, foi ela sim...
Vamos
lá !
O
médico e o pai da menina, depois do
verificarem se estava tudo bem com a mãe e o menino, saíram e foram até o carro, que se encontrava do
outro lado do rio...
Lá
chegando, começava a chuviscar, o carro estava
com os vidros fechados, a chave no contato, e nele, nem nas
adjacências, ninguém!.... (Apenas, o
rádio do carro continuava ligado e, no
momento, em que abriram as portas,
começou a tocar uma linda valsa, cantada por Orlando Silva, cujo nome é
Rosa...).
Aqui entre
nós, atualmente, o sitiante não mais mora em nosso município, foi com
sua família, talvez, para o Estado do
Paraná, a parteira e o médico já morreram, só restou o seu nome em um
estabelecimento público do município relativo à saúde, e esta história, que ele
mesmo me contou, e relato hoje à vocês.
O
Doutor, mesmo após, algumas doses de um bom wyski, não era homem de mentiras....
Milton Hauy