domingo, 27 de maio de 2012

JUNHO OUTRA VEZ...


Estamos chegando, novamente, no mês  de junho, já entremeando o novo ano, que sem querer vai ficando, também, velho.
É o mês das manhãs ardentes, como as fogueiras e festas que, durante as festivas e calientes noites, comemoram as datas marcantes  dos Santos , cujas bandeiras , bem enfeitadas, erguemos nos mastros, sob a rajada de aplausos e fogos de artifícios...
O primeiro é Santo Antônio, que dizem ser o santo casamenteiro, e em data de véspera, cuidam as pessoas que necessitam de sua ajuda, de procederem às variadas “simpatias”, ora colocando mel em um prato, e nele o nome da pessoa amada, para que o   sereno e a luz da lua, possam favorecer na realização do desejo almejado; outras, furam uma maçã e depois de colocarem dentro dela, mel, açúcar  e o nome da pessoa desejada, também procuram coloca-la sob a luz da lua, para no dia seguinte verem se a “simpatia” deu certo....
O segundo santo é São João, que aparece na bandeira como um menino loiro, do cabelo encaracolado, com um carneireirinho no colo e, dizem ajudar muita gente em diversos pedidos...
O terceiro santo junino é São Pedro, o santo que possui as chaves do céu, e as tem nas mãos... depende do Pedroca a sua entrada ou não no Paraíso, viu ?
E o povo costuma  festejar durante todo o mês de junho, os três santos, o primeiro no dia 12 e 13, o segundo no dia 24 e o terceiro no dia 29 ou 30, promovendo  as fantásticas e concorridas Festas Juninas : com  rezas, terços, quermesses, barracas, bandeirinhas, prendas, rifas, sorteios, leilões, danças, músicas, quadrilhas, bailes, fogueiras, muitos fogos de artifícios, ”simpatias”, etc.
E os busca-pés, que atormentavam  as moças, fazendo com que elas saíssem correndo  se esconder ?
Também as rodinhas de fogo, que acesas  giravam, giravam, proporcionando um espetáculo maravilhoso, acho que não mais existem ... assim como os balões, que enfeitavam o céu, assanhando a molecada, nas lindas noites juninas, nos ofertando uma visão romântica e colorida, mas, que causavam incêndios, razão de serem proibidos e extintos...
“Pula  fogueira , Yayá... Pula fogueira, Yoyô...
Cuidado para não se queimar...
Olha que a fogueira já queimou
O meu amor...”

Recordamos com imensa saudade, as animadas , concorridas e tradicionais quermesses no largo da capelinha de São João Batista, realizadas durante todo o mês de junho na Vila São João em Getulina.
Aquelas noites frias, além dos enfeites tradicionais aqui em baixo, era enfeitado, também, pela lua , lá em cima, que vagava pelo vasto céu, bordado de estrelas... toda cheia, e nos enchendo de maravilhas, sonhos e ilusões...
Tudo parecia ser mais romântico...
“ As noites de junho, tão lindas...A festa na roça...e o céu enfeitado...Pois, todas as festas são tristes,
Sem   um  amor ao nosso lado...”

Passo a rever os sorrisos das moças, sob os olhares curiosos e apaixonados dos rapazes, circulando , por entre a Praça da Capela, o coreto, e as barracas, todas muito bem enfeitadas , onde haviam pessoas de todas as idades, participando da festa , ouvindo as músicas juninas, ora da Banda Municipal, ora dos alto falantes, entremeadas de ofertas :...”de alguém para alguém, com muito amor...simpatia...ou, carinho...” – os mais íntimos , ou menos, os mais tímidos, através de “Correios Elegantes”, que eram  bilhetinhos de papéis coloridos , enviados por meio da garotada, com as declarações e mensagens de afeição, de um para outro... – daí, muitas vezes, nasceram paixões desenfreadas, que acabavam em encontros, namoros... e até, casamentos...; na maioria, foram apenas, casos passageiros, enveredando por outros caminhos, restando apenas imensas recordações...
“ Capelinha de melão... é de São João...
É de cravo, é de rosa, é de manjericão...”

De entremeio, interrompia-se as músicas e mensagens, para as realizações dos memoráveis leilões, e das cantadas dos bingos, sorteando brindes aos inúmeros participantes, que colaboravam com a reforma e melhoramentos da Capela.

“ Eu garanto que São Pedro, Santo Antônio e São João
São da mesma opinião...(bis)
E, quando um balão for subindo, pro céu estrelado...
Tu podes me dar um beijinho...
Que eu juro que não é pecado...”

Além da grande fogueira, tinha o escorregadio , e até engraçado, pau de sebo, onde a meninada tentava alcançar, no topo, o grande prêmio, mas, a maioria, não conseguia, escorregava e caía... – assim como nós, em realidade, na vida, e, em nossos inatingíveis sonhos...

“Coqueiro, eu te compreendo o sonho inatingível
De quereres subir ao céu...mas, prende-te a raiz...
Esse teu desejo  de querer o impossível...
É igual a este meu, de querer ser  feliz...”

Uma das coisas, que também, foi marcante nas festas juninas da Vila São João, dentre muitas outras, era a Barraca do Quentão, sempre gostoso, feito e servido  pelos eficientes e simpáticos  Cotarellis : Silvio, Orlando e Frederico, sendo que apenas este continua vivo, e talvez, ainda recordando, como nós, dos bons tempos , que já se foram, mas, continuam reluzentes em nossas mentes, aguçando ainda mais no meio de cada ano, quando as rezas, músicas, bombinhas e rojões começam a anunciar a festança novamente, embora em outros lugares, avivando as eternas lembranças...de um tempo distante, mas, como se fosse ontem, ou no  ano que passou...

Aqui entre nós, hoje, vamos encontrar o passado, no tempo presente, buscando no sincero e espontâneo sorriso dos jovens, que vivem  as nossas mesmas emoções, renascendo pois, em outros corações , de maneira diferente, mais moderna, em noites de muita música e luz, mas, descoloridas da ingenuidade , dos segredos, e tabus de antes, cujas perspectivas e expectativas ilusórias, eram anseios e sonhos melhores e, desculpe-me a sinceridade, bem mais bonitos, apesar de tudo...

Chegamos nós, chega você, e chegarão no futuro as pessoas de hoje, com uma bagagem imensa de enormes e ocultas lembranças, que fazem e farão transbordar a saudade de todos, e de tudo que vivemos, rogando à Santo Antônio, São João e São Pedro, que não deixem apagar a grandiosa fogueira, de coisas inesquecíveis, que ardem em nossa mente e em nossos corações...


                                                                                              Milton    Hauy

domingo, 6 de maio de 2012

UMA INESQUECÍVEL MULHER


Era pequeno e você me amava, e eu adorava você !

Tinha um medo danado de perdê-la...
Me  ensinastes  a dar os primeiros passos, a falar as primeiras palavras, respeitar a Deus e ao próximo, orar agradecendo o pão de cada dia...E então, pedia ao Criador para que a protegesse sempre e nunca levasse você embora, para longe de mim...Fiquei doente, passei mal, e você orava com fé, juntamente com o papai e manos, fazendo tudo para salvar-me. Levaram-me à São Paulo de avião, para novas consultas médicas e tratamento (tudo era tão caro, e a vida difícil, mas você fez promessa à Nossa Senhora Aparecida e ela me salvou..
Fostes, anos depois, até a cidade de Aparecida do Norte, me levando junto, cumprir a sua promessa: acender uma vela do tamanho que eu estivesse...
Por mais de 30 anos eu vim até aqui no Cemitério de Getulina,  sem nunca ter morrido ninguém da minha família...
Acompanhava à quase todos os enterros: de recém nascidos, jovens, mocos e moças, idosos, todos parentes de amigos  que nos deixaram, alguns na flor da idade... E como você me havia ensinado a rezar, mamãe, eu rezava por eles... e rezava, também, para que Deus não levasse você de mim...eu continuava tendo um medo doido de perde-la...
E nós seis – papai, você, eu, Salomão Leila e Suraya – éramos tão felizes !
Uma noite, chovia...e, perdemos o nosso papai, apesar de eu ter pedido tanto para que ele, também, vivesse mais e mais...
Como você sofreu mamãe ! Nunca demonstrastes desespero, tinha sempre muita paciência, e um enorme carinho para com todos.
Continuastes a tocar a loja e a cuidar de nós e do nosso lar...
Preocupava-se com todos, inclusive com os outros...quantos namoros e casamentos arranjastes !
Quantos conselhos, recomendações fizestes, reconciliando inúmeros casais, ensinando a arte sublime de saber aceitar, suportar os defeitos alheios, ressaltando as virtudes do próximo e perdoar sempre ! Quantos lares ajudastes a edificar e montar !
Na sua loja, os fregueses compravam sempre com ou sem dinheiro...muitas vezes, sem entrada e mais...nada ! Era nossa mãe, e a verdadeira “mãe dos pobres”, também.
Fostes a mais ativa e antiga comerciante de Getulina. Trabalhastes sempre com afinco, por mais de 70 anos, ora medindo panos, tecidos, ora vendendo móveis, e nem conseguistes a sua tão almejada aposentadoria ! (que injusta, e tola burocracia, heim ?).
Cozinhavas bem, como ninguém ! E  pensar, que quando casastes, não sabias fritar um ovo, sequer !
Os seus saborosos, invejados e nunca imitados pratos culinários, ficaram conhecidos e famosos por todos, não só em nossa terra, como em todo o mundo. A nossa mesa sempre farta, no mínimo eram dez pratos variados, diariamente, tanto no almoço, como no jantar (que gostosura ! ). E, não eras a grande Mestra somente na cozinha árabe, não ! A sua macarronada, o seu arroz-feijão, seus bifes a milanesa ou acebolados, a batatinha, o nhoque, os assados, e outros variados pratos,nunca ninguém conseguirá fazer igual e tão gostoso !
E quando morria alguém na cidade, tanto pobre, como rico, você sempre se preocupou em fazer a comida, e depois enviá-la à família enlutada (pois, dizia que eles, naquele momento estavam em desespero, e não poderiam fazer a alimentação para si, e para os eventuais parentes que vieram acompanhar o féretro...). E lá ia eu, levar paneladas de comidas, que a Dona Meire fizera, para os familiares e amigos do então falecido(a).
A comunidade de Getulina reconheceu seu trabalho e seus feitos beneméritos ! Outorgou-lhe a Câmara Municipal o Título de “Cidadã Getulinense”, e o Rotary Club, homenageou-a, na década de 1980, como a “Mãe do Ano”.
E você, sempre tão bonita, com seus lindos vestidos, cabelos sempre bem penteados, sapatos de saltos bem altos, baton, rouge, e unhas compridas e maravilhosamente esmaltadas (Que elegância, heim? ). Nunca fostes orgulhosa, na sua simplicidade e grandiosidade, eras carinhosa, amiga, caridosa ao extremo !
O tempo passava, e eu adulto, continuava pedindo ao nosso Bom Deus, que não deixasse você morrer, ir embora...que nunca levasse você para longe e mim... eu precisava primeiro me casar, e ser bem mais adulto, para então poder suportar a separação... E quantas vezes você quase nos deixou... Quantas cirurgias, em tão pouco tempo... E cada vez que isso acontecia, eu rezava, fervorosamente, ao nosso Pai do Céu, rogando para que você vivesse mais um final de Ano, mais um Natal, mais uma Páscoa, mais um aniversário, mais um Dia das Mães conosco... E você então melhorava, e nós agradecíamos felizes... nos reunindo à sua volta, na sua bela casa, que por você e o papai, foi edificada com tanto amor e sacrifícios...
E a Dona Meire, continuava a encantar à todos, com a sua carismática simpatia !
Depois... você caiu novamente, mamãe, fraturou o fêmur... nova cirurgia, novas preces para que você sarasse e voltasse a andar. E Ele me atendeu, você melhorou... E nós voltamos a sorrir...
Você, tempos depois, teve nova queda, seus ossos estavam fracos... nova cirurgia... E eu já adulto, casado, com cinco filhos e netos, ainda me sentia criança, e sem forças para suportar a sua eventual ausência... E outra vez pedi à Deus, e fui atendido, você voltou viva para casa...
Como você sofria, mamãe !
E eu relembrava , como você sempre procurou servir, nada querendo em troca.
Que pessoa maravilhosa foi você, mamãe ! ( Sei  que todas as mães são ou foram boas, mas você foi especial, que me desculpem os outros e as outras, a senhora, querida, foi realmente, fora de série, encantadora ! ). O quanto você fez por  mim... por nós... e, como tão pouco fizemos por você !
Mas, ontem à tarde, você resolveu nos deixar... Sei que estava sofrendo muito, querida,  era preciso descansar... mas, nós, egoístas, queríamos que vivesse mais e mais...
Não sei, seu eu não estava  mais rezando direito...mas, só sei que a gente é eternamente  uma criança crescida, e que você, mamãe, nunca envelheceu... Chegara a hora da sua partida...
Como é difícil querer aceitar tudo isso ! É bastante triste !
Que  enorme vazio você deixou, meu amor !
Nem todo o montão de lembranças e saudades que estamos sentindo de você, irão preencher  esse vazio... nunca !
Não há dúvida, que quando você, e ou, sua alma  chegou no céu, por certo,  São Pedro, foi logo lhe dizendo: - “Pode entrar, Dona Meire, a senhora, também, aqui não precisa nem pedir licença...”
Eu sei, que dentro de alguns dias, no firmamento irá brilhar uma nova estrela, linda e maravilhosa, e se olharmos direito, ela se distinguirá das outras, por estar  usando rouge, baton, esmalte, sapatos de saltos altos e, brilhará eternamente,e, pelo jeito, ninguém duvidará que será você, mamãe, que virou, para nos consolar, uma estrela encantada !
Vá...e descanse  em paz, minha  querida !
Adeus !...

                                                        Milton  Hauy