segunda-feira, 5 de março de 2012

UMA NOITE DE HORROR

Faz muito tempo, e a  nossa turma  resolveu fazer,  de uma noite linda, romântica , estrelada, uma noite macabra , horrenda, terrível...

                            E falava-se até em premiar a fantasia mais bonita, a melhor, a mais original, ou seja,  a mais horrível, que metesse medo em todos...


                            Marcou-se, para a então próxima sexta-feira, 13, de um mês qualquer ( isso, é para não invocar algum aniversariante  do então mês, criando problemas...).

                            O lugar  escolhido, foi  o   cemitério, por volta da meia noite (vejam só, tanto lugar para se brincar, e a nossa juventude preferia , involuntariamente,  profanar  o campo santo , local que, sempre, mais progrediu, e progride,  em nossa terra).

                            Pularíamos o muro, ou entraríamos pela valeta, e nas proximidades do cruzeiro nos concentraríamos , para o grande e esperado encontro...

                            O regulamento previa que, também,  se poderia levar pequenas lanternas, lampiões, fósforos e  velas.


                            Assim foi feito.

                            Mas, não foi grande o número de concorrentes, que se esperava, pois houve muitas desistências  de última hora, da então programada  participação, alegando as mais esfarrapadas desculpas,  a fim de encobrirem o medaço dos cagões...

                            Apesar disso, teve  até uma inscrição, feita por telefone, de uma jovem de Lins,  Guaimbê, Cafelândia ou Promissão.


                            Os  pré aquecimentos  para o  tétrico desfile, foram feitos nos mais diversos bares de nossa cidade, pela grande maioria, que tratou de ingerir cervejas, chopps,  pingas, vodkas, wiskis, champagnes, conhaques  e vinhos.

                            A noite parecia ter sido desenhada para o  grande evento das muitas  travessuras e poucas gostosuras...

                            No entanto, não era de lua cheia, e sim, quarto minguante, estrelada, escura, nevoenta, apesar de fresca, cuja brisa fazia ventar ora de leve, outras vezes, fortemente, um vento vagabundo que, assobiando,  levava consigo folhas secas, papéis e plásticos , que esvoaçavam  como pipas pelos ares... inclusive, também,  sacudindo os galhos e folhas das árvores...

                            Via-se o desfilar de vultos estranhos, que se misturavam no ritual macabro ... enquanto no ar  vagavam os vagalumes e pirilampos, o pessoal carregava velas acesas , cujas  luzes  temporárias , assustavam as corujas, outras aves notívagas, e os morcegos, estes em seus vôos rasantes, quase tocando as nossas cabeças , fazendo com que o maior dos machões , ou a mais corajosa das mulheres, sentisse arrepios de cima em baixo, ocasionando o bambear das pernas, em rápidas e ocultas tremedeiras....

                            Os que iam chegando, iam colocando as suas velas ao lado do Cruzeiro, e de lá enviavam luzes , que misturadas à luminosidade dos faróis dos veículos que passavam lá fora, e, momentaneamente , iluminavam lá dentro, nos mostrando  o desfile macabro das pessoas com máscaras e fantasias, de vampiros, caveiras, lobisomens, fantasmas, sacís, bruxas, zumbís e duendes.

                             Paralelamente, a tudo isso,  acontecia também, no mesmo local , um desfile mais rápido de lagartos,  largatixas ,  ratos, calangos, baratas, formigas e aranhas, sob o som  musical dos grilos ,  e o  tristonho coaxar das rãs e dos sapos...

                            Ouvia-se adiante, os miados soturnos dos gatos pretos, e, depois, o uivar dos cães , parecendo lobos, completando o característico cenário dos filmes de terror...
        

                            Ao nosso lado, caminhava alguém com uma notória , fantástica e chocante fantasia , composta de uma máscara horrenda, era de bruxa, e , desde logo, já se imaginava ser ela a  forte concorrente ao prêmio daquela importante noitada... não havia nada mais feio, simplesmente, horripilante !

                            Continuava a lenta caminhada, cada um observando o outro, cada passo, cada gesto, quase não se falava, apenas de quando em vez, um cochicho, um murmúrio , e vagas e pequenas risadas...

                            Olhava-se, desde a cabeça até os pés... do chapéu ou capuz, da máscara, até as botas ou botinas... as vestes reluzentes, as capas e mantos esvoaçantes, as luvas, tanto as de borrachas, plásticas  ou de cetins, eram   de um modo, quase que geral,  pretas, mas, haviam também as brancas que contrastavam com a maioria das vestes  negras....


                            Espalhadas pelo vasto cemitério, haviam sido colocadas as enormes caveiras, feitas de abóboras, mamões , e até de melancias ôcas, em cujo interior, foram colocadas velas acesas, que  destacavam os furos, simbolizando os olhos, as bocas e narizes, fazendo do ambiente  lúgubre, mais funéreo ainda, próprio para aquela ocasião .


                            Muitos traziam caixas de isopor, contendo gelo, ou garrafas de água gelada, que era para que se enfiasse as mãos ou as luvas, para depois tocarem as pessoas circunstantes, mostrando o gélido sentido da morte, ou dos mortos.

                            Era mesmo de arrepiar todos os cabelos !.  Tanto os da cabeça, como os dos “cutuvelos”...




                            Ao longe, ouvíamos o ressoar do sino da matriz, enviando aos ares,  as doze badaladas, que anunciavam ser meia noite, horário triunfal do início do desfile de horrores....

                            Quando  passávamos  pelas avenidas e quadras da necrópole, olhando  de um lado para outro, às vezes até para  trás, líamos nas lápides os diversos nomes dos ocupantes  das variadas sepulturas, jazigos, túmulos e covas, de cada pessoa conhecida, familiar, amiga, ou desconhecida, que haviam há muito tempo, ou até recentemente, partido para o outro lado da vida , e de cada uma , nos vinha uma série de vagas e  profundas, alegres e tristes,  recordações ...


                            No desfile , cada pessoa ou  participante,  empunhava, senão um cajado, uma vara, algumas  enormes, outras pequenas vassouras, espadas, lanças,  foices, facões ,  punhais, chicotes, laços, bengalas,etc...


                           Até que então, chegou o momento tão esperado da proclamação da fantasia vencedora, cuja personagem, deveria se revelar, tirando a máscara, para receber os aplausos e o prêmio ... já  se adentrava   a  noite , avizinhando-se a madrugada...


                            Ganhara a fantasia  cintilante da Bruxa, que ostentava uma máscara horrenda , empunhando em uma das mãos uma foice, noutra  enorme vassoura, a mulher que viera de fora, talvez, de Lins, Guaimbê,  Cafelândia ou Promissão  ...e fizera a  sua inscrição, no concurso,  pelo telefone, vencera a competição...


                            Naquele instante , os demais participantes passaram a retirar as suas máscaras , e  solicitavam à vencedora que fizesse o mesmo, a fim de se revelar, dando o seu nome, mostrando o seu rosto, e  ressaltando  seu endereço, para conhecimento de todos...

                            A Bruxa vencedora, se negava em retirar sua máscara, mas insistia em levar o seu prêmio...

                            Aqui  entre  nós, após variados falatórios e discussões, a Campeã da noite , pediu a palavra,  e disse em alto brado e bom som : -  Eu não estou mascarada... eu sou assim mesma...

                            Em seguida, soltando estridente e sarcástica gargalhada  subiu sobre sua vassoura e alçou vôo, passando sobre os jazigos, túmulos , covas, e  todos nós ,  voou longe, perdendo-se na escuridão...

                            Todos ficaram  pasmos e assustados, desde os mais machões até os mais medrosos dos participantes, que  tremendo como varas verdes, olharam para todos os lados...e  saíram   em debandada carreira, largando tudo para trás,  e levando tudo no peito, pulando o alto muro do cemitério, rumando  cada um para sua casa, a fim de livrar-se , o quanto antes  da fedentina, originária das fezes que escorriam  pelas   pernas abaixo , e, procurando, para limparem-se,   tomar aquele banho, regado às mais variadas e perfumadas essências...




                                                                  Milton  Hauy

Um comentário:

  1. Todos já viveram, ou ouviram contar, uma série de casos e causos, sobrenaturais,que assustava a nossa infância, e hoje nos faz meditar, das coisas estranhas, desse nosso mundo estranho...

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