sábado, 25 de fevereiro de 2012

MINHA VELHA INFÂNCIA

Às  vezes, saio sozinho pela rua à procura daquele menino de olhos claros, calças curtas,  pés descalços , peito nu, cabelos por pentear, que saiu à procura de outros meninos iguais, com  estilingue  no pescoço, bornal de pano cheio de bolotas de barro , vindo da Olaria do Marco Zanco, e ou, bolinhas de vidro, usadas para provocar os pássaros ,  estilhaçar as vidraças alheias, ou ainda derrubar mangas e outras frutas....

                            E o procuro, também, à beira do riacho, na rua de baixo, ou então próximo ao moinho de fubá, perto do matadouro... adiante na lagôa... nas proximidades do campão, em algum campinho , correndo atrás de uma bola de meia, de borracha ou  até de  capotão...

                            Passo depois, na rua do Grupo Escolar, perto da casa do Alécio Bernardes(Alecião), , do Toninho Rabito, do Celso  Capitão, Dinho  Polenta,  Armandinho (Picovo) Alfieri, Betão e Rubinho Sterse,  Osorinho e Carlinho Parreira...do Dutra, do Chico 21, do Pedro Silva, Pedrinho Araujo, Antonio (Tatuí) Paes de Almeida, José (Bala) Carlos Isaias, Elcio  Pimenta de Pádua, Onivaldo (Budê) Martins, José (Gueré) , Oliveira (Guinho) Vasques, Zé  Bereba, Isaías  Bonfim, Florindo (Macarrão) Delalíbera, Ademar Carlos dos Santos....




                            Não o encontro, mais vejo se avisto o Nicolau Armeli, o Mário Foki Takeda , o Toninho Mengato...ou ainda, o Patico, Pérsio Leite, Carlos Tonza, Betão e Rui Bertoni, ou então o Singe Okoshi, Walter, Bolivar (Boli) e Lineo Canazzaro...Piolim e Zéca Rigoldi, Chiquinho Mattos, Hermelindo Schuindt, Nelsinho Perche,José Roberto (Poli) Bicudo, Tonico e Marival Trazzi, Tostian, Minoru, Sáburu e Renê Aoki, Mitiaki Hosoi, Toshio ,Tomio,  Eikiti e Sumió Noda...o Linconl Chinchila, Adalberto (Mazaropi) Macedo, Mashuo (Maipú) Kato, Athaide  Walter(Ventila) da Silva, Wanderlei (Gata) e Duílio Vivan, Angelim (Alitiátia) e Roquinho Tricárico, Wagner Zanco, Armando(Burôca) Nakamura, Luiz (Nêgo) Zabeu, Eduardo (Baiano) de Mattos, Tico e João Cioni, Joelzinho de Pádua Albuquerque, Ildeu e Ivan Peres Leite, Sebastião Luiz (Fuzileiro) Tavares,  Roberto (Beto) Leão, Hugo e Mauro Guilherme, Marinho Martinucci, Ildo e Abelardo Caliani, Luiz e Geraldo Cardoso, Celso Correia, Ilson e Toninho  Gonçalves, Alvino Delgado, Ladislau Domingues, Olaíde  Pedro, Ademar (Miosótis) de Oliveira, Alfredinho Prazeres, Jorge Ducci, Wilson e Rui Lima Alves, Jorge Sonoda,Darci e Danilo Alves, Wanderlei (Peru) de Oliveira, Teodoro Sato, Dinei, Vardo, Quéio e Quetão Falqueiro, Carmo (Minão) Martins,  Balô, Ditão e Dinho Biondo, Elpidio Lopes,     Jaime Bozelli, Orlando Deverlan, Eudaldo (Dado)Borges de Souza, Raul Becegato, Silvio (Tingido)e Luizinho Godoy, Iguatemi de Oliveira Lima,   Onofre, Moacir   e Ledo Giorgiani, Edson Eler, Zéca Leão, Vitório e Mitio Goto, Padreco, Canarinho e Quinhentão Fonseca, Tonico Dinalli, Francisco Osmar Ambrósio, Waldir e  Oldenir (Bill) Nochi, José Roberto (Pó de Arroz) de Fully, Abelardo e Nico da Silva, Zé (Botéco) Monte, Carmelo Pagliuso, Waldomiro (Dinho) Bana, Euclides (Cridio) Zuliani, Toninho (Pizza) e Carlinho Cecilio, Élio (Gibóia) Penachio, Geraldo (Gêra) Gregório , Geraldo e Alcindo dos Santos, Joaquim (Quincas) Rebouças, Arlindo (Carabina) Silva, Zé Luiz Veloso, Francisco (Chico) e Salvador (Bolinha)  Alves, Paulo (Peba) Uemura, Munir Salhani, Atushe  (Bodão)Nakao, Pepê Campos Marques, Chico Lôco Selari, Sadao da Quitanda... e muitos outros...

                                      Continuava a  vagar pelas ruas descalças de nossa Getulina, na  ansiosa busca pelo menino que desaparecera....

                                      Será que está jogando bola  ou futebol ?
                                      Brincando de cirquinho, embaixo do porão... esconde-esconde... de salva ... de pique ...de mocinho e bandido... jogando botão, petéca, voley, basquete, pingue-pongue, hand ball, basebol (no campo da Vila Bana), queimada,  rapa tudo, bolinhas de gude....teria ido nadar na cachoeirinha ou na lagoinha ? 

                                      Acho que foi  tomar um  sorvete Spumoni  no Pinguim...  um picolé cremoso lá no Quixaba...ou no Bar do Mané Camelo...ou, ainda, estará brincando no coreto lá da Praça ?

                                      Teria ido ao Cine Getulina, ou  ao Cinema do Padre ...  ao Circo Ayres ...ao Parque  de Diversões, que armou lá perto do Bar da Areia ?

                                      Fora, talvez, comprar um pirulito, uma cocada, uma  sombrinha de balas,  algum  algodão doce...
                                     
                                      Será que foi no Bar do Bibí, que depois foi do Murakami, tomar refresco e  comer alguma empadinha feita pela Dona Olga, ou picadinho de carne no Bar do Dito e Paulo Watinaga,ou,  lá na Cantina 160 comer um pastel feito pela  Dona Norma  e seu Galvão , ou pela  Dona Zezé e seu Cirineu Volpini?

                                      Ou então,  no Bar do Zé Benedito,  comer um salgadinho e tomar  um gole de cacau... estará presenciando o footing, em frente ao jardim, ou ouvindo as músicas da “Voz de Getulina “?

                                      Com esse enorme calor, talvez, esteja chupando bala piper, para depois tomar um copo d’água, a fim de que ela fique gelada...

                                      Os seus colegas também haviam desaparecido... alguns foram embora para sempre... outros, para outras localidades...e os que pareciam estar na cidade , tinham outras características... estavam maiores, fisionomias  estranhas... os que não estavam ficando calvos, tinham os cabelos brancos... algumas rugas na testa e  nos rostos... parecendo que num toque de mágica, ou de interpretação teatral, pretendiam envelhecer...

                                      Crianças !   Meninos !  Moços ! Rapazes !  Vejam o  que fizeram, e ou,  estão fazendo de sua juventude ?

                                      Corram para refletirem-se nas águas do riacho, lá de baixo, e vejam que máscaras estão usando...

                                      Peçam que o riacho lhes devolva o menino de antes...tirem e rasguem as máscaras... a brincadeira terminou...

                                      Aqui  entre  nós, voltemos aos bons dias de antes... em que a gente era  mais gente... o menino  de então, possuía amigos e companheiros de verdade... pai, mãe,  avô, avó, tios, tias, primos e primas, padrinho, madrinha... hoje... não possui mais nada...
                                      Menino...Ô menino...onde está você ?!?
                                                       

Milton  Hauy

sábado, 18 de fevereiro de 2012

O BLOCO DA FUZARCA

Certa vez, vieram de fora,  grupos de rapazes,  alguns   da capital, outros de Lins, para brincarem o Carnaval em Getulina.


                                      Se  encontraram, e resolveram  se alojarem em  uma casa bem grande, onde já havia um grupo de moças (ficava ali, onde hoje se encontra a Estação Rodoviária local) , a fim de ser a sede do “Bloco da Fuzarca”, denominação escolhida, posteriormente, pela maioria do grupo.

                                      Compraram as camisetas, mandaram pintá-las (porque naquele tempo, não era fácil  fazer estampas, como agora), de cor berrante, ressaltando o nome do Bloco.


                                      Os moços  iriam de calções pretos, as moças de shorts vermelhos, ambos com as camisetas brancas  pintadas, como acima narramos.


                                      E para aumentar o número de participantes, começaram a aceitar adesões de outra pessoas, pois ali na casa, apareciam sempre novas amizades, eis que os instrumentos (surdos, bumbos, tamborins, reco reco, triângulos,  cornetas, etc) quando executados nos  ensaios, à quase todo momento, aliados à cantoria,  chamavam atenção da população jovem e adulta de nossa terra.


                                               Assim é, que, os rapazes começaram a namorar algumas moças que aqui conheceram, justamente aquelas que encontraram já morando  naquela  casa.


                                               Era um agarra agarra danado, ali dentro daquela enorme casa, coisas avançadas para aquela época, e que davam  margens  aos variados comentários da vizinhança fofoqueira.

                                               Se fosse hoje, diriam que eles chegaram até a transarem ... a ficarem..., enfim  a se envolverem  tais como os casais apaixonados.


                                               Até que chegou os dias dos grandes bailes, e com eles as indecisões , de em qual clube brincar (?!?).

                                               Optaram para irem na primeira noite no  Salão do Clube Atlético Nove de Julho (ficava lá em baixo,  próximo onde hoje encontramos a Creche Coronel Barbosa e a residência da Família Sonehara); depois,  na outra noite, além de sairem pelas ruas de nossa cidade, acompanhando o corso, iriam no Salão da Sociedade Amigos de Getulina(SAG – que ficava ali onde hoje é a Fábrica de Móveis e Vidraçaria Popular do  seu  Elias  Hauy e Filhos, sendo o  patriarca citado, um dos fundadores dos referidos Clubes, sendo que o primeiro citado foi extinto anos depois, e o outro continua ,  atualmente funciona em Sede própria, e,  é,  mais  um dos orgulhos de nossa cidade), sendo que nos outros dias decidiriam onde fossem melhor acolhidos, pois  ambos tinham boas  e famosas orquestras comandando as animação;  e foi  o que fizeram.


                                                  Foram dias  inesquecíveis para aqueles jovens, todos enamorados, românticos, educados, brincalhões, não só com os integrantes de seu Bloco , bem como, com  todos os circunstantes.

                                               Ficara muito bonita a fantasia, e ainda fizeram uma grande bandeira, com os dizeres :  “O Bloco da Fuzarca Chegou !”.

                                               Chegaram até a ganharem  prêmios, como  o mais animado bloco,  e os melhores foliões do nosso carnaval, tanto num clube, como no outro.


                                               Até que chegou a hora da despedida, findara os dias de folia, e a turma tinha que se apartar...

                                               Trocaram endereços, abraços e beijos... houve até muitos casais que choraram.... assim, os de fora se foram , deixando  e levando saudades...
                                               No outro ano, voltaram para Getulina, e procuraram pelas moças de nossa cidade, dirigindo-se para aquela casa, encontrando-a no mais completo abandono, e  pelas ruas, não encontravam ninguém...


                                               Não se conformando, passaram a indagar pela cidade, declinando os nomes e as fisionomias de cada uma delas.


                                               Horas depois, ficaram surpresos, quando alguns  dos antigos moradores  lhes informaram , que aquelas moças, com as quais eles diziam ter ficado, e brincado o carnaval do ano passado, de  cuja descrição eles haviam feito, haviam morrido há mais de dez anos, e estavam enterradas no cemitério local !

                                                Aqui entre nós, naquele momento, em que lhes faltavam as pernas, e as cabeças pareciam rodopiar...  fazia-se ouvir  ao longe,  o iniciar de uma batucada , enquanto no  firmamento  apareciam as primeiras estrelas, juntamente com a  lua,  para aquele céu ornamentar...





                                                                           Milton  Hauy

domingo, 12 de fevereiro de 2012

F A Í S C A

Acho que já cansei de contar para vocês , mas devo repetir, que Getulina foi, noutros tempos, uma cidade muito movimentada.

                            A sua população era enorme, e a zona urbana possuía um vai e vem de gente contínuo e estrondoso, pois a zona rural, com seus extensos cafezais, era bem mais populosa que a urbana, pois aquela necessitava de constante mãos de obra.

                            E em nosso comércio, dentre muitas outras eficientes pessoas, trabalhava o sempre prestativo Faísca , moço loiro, de  baixa estatura, não era bonito, mas nem feio, bem  educado, que nascera na Baixada Fluminenese, mas adotara nossa cidade como sua terra.

                            Viera  trabalhar com seus tios, que eram ativos comerciantes, e por aqui ficara.

                            Ele trabalhava, no balcão do armazém de secos e molhados,   de segunda até sábado com afinco, até as l8,00 horas,  fazendo após o expediente normal, a entrega de mercadorias à vasta freguesia do estabelecimento, não só na cidade, como nas vilas e, principalmente, nas fazendas e sítios da redondeza.

                            Nos finais de semana, após o retorno de sua labuta, Faísca costumava, depois do banho, jantar,  e troca de roupas, frequentar os bares e bailes dos arredores, e, juntamente com sua turma de amigos, encher a cara de pinga e cervejas.

                            Mas, na segunda feira, logo pela manhã, refeito, enfrentava o batente  comercial, seguindo a mesma e constante rotina.


                            Mas, apesar dos pesares, ele era um moço econômico, que conseguia guardar muito dinheiro.


                            Um certo dia, foi notório, Faísca diminuíra na ingestão das doses das bebidas que continham  álcool etílico, e descobriu-se que estava de namoro com a Florisbela, uma mocinha que morava lá no alto da Vila.

                            Não demorou muito, para que fosse marcado o casamento dos dois, vez que ele ajudou no término do enxoval da noiva, comprando inúmeras peças  .

                            Foi marcado para  o  penúltimo sábado do mês, em razão de no último ser dia de pagamento e muito movimento no comércio, de modo especial no do seu tio.

                            A turma ficou contente, apesar de perderem um dos integrantes, que passaria ao rol dos homens sérios.

                            A semana  que antecedia o dia do casório foi revestida de muita correria, até um terno novo o Faísca comprou, para juntar aos demais que já possuía.
                            Na antevéspera do casamento caiu um temporal feio em nossa cidade, e o apelido do nosso personagem começou de outra forma espalhar-se pelo céu, era só faíscas que saiam,  seguidas  de estrondosos trovões, que faziam medo aos mais valentes  dos machos.

                            Quando se preparava  a despedida de solteiro do Faísca, com enorme tristeza, chegou a infausta notícia,   de que Florisbela havia sido atingida por um raio, vindo a  falecer instantaneamente.


                            Todos ficaram desesperados e,  o Faísca, nem se fala, chorava copiosamente, e juntamente com ele,  todos nós. 

                            Os dias que se seguiram , depois do  emocionante enterro da noiva,  foram horríveis.

                            Faísca tornara a beber, e de maneira mais desenfreada, como se a pinga pudesse fazer esquecer  os momentos dolorosos pelo qual passara.


                            E assim foi durante um ano, dois... até que em um baile, que a turma  conseguira levar o Faísca quase que na marra, volta ele amarrar-se em uma outra moça, Assanhacersa, que viera há pouco tempo de Minas, e estava ajudando seus pais, no cafezal do  Vinte de Maio.

                            O semblante do Faísca mudara, novamente diminui  ele na sua  bebida  , e parte de corpo e alma para o novo amor...

                            Meses depois, ouve-se falar que,   os dois já  noivinhos,  iriam  “juntar seus trapos” no mês seguinte, em cerimônia simples, pois o Faísca comprara todo o enxoval para  ela, bem como havia alugado e montado  uma bela casa na cidade, onde iriam morar, e ela cuidar,  pois ele continuaria  trabalhando no armazém.

                            A Turma do Barril, não podia deixar por menos, teria que fazer a despedida de solteiro do Faísca, com distinção e harmonia, o que foi feito, uma semana antes do  matrimônio.

                            Quase mataram o Faísca        , de tanta brincadeira e bebedeira !

                            Até que chegou o dia do casamento, e apesar de poucos convidados, a sua Turma tava lá à postos, aguardando  o momento tão importante.

                            Eis que chega em um táxi o Faísca, acompanhado de seus padrinhos, estava ele de terno branco, novinho, camisa da mesma cor,  com gravata borboleta  e sapatos pretos, esboçando sorrisos aos circunstantes.


                            E a Igreja Matriz começou a encher de gente, pois a cerimônia matrimonial  seria durante a missa, assim é que muitos devotos, não sendo convidados  para  a celebração daquela  união conjugal, comparecia para o  costumeiro e sagrado rito religioso.

                            Mais tarde, quase no horário de início da missa,  o Faísca já  estava impaciente, eis que chega o carro  que havia ido buscar a noiva lá na Fazenda, trazendo os seus padrinhos... mas, sem a noiva, pois esta, segundo os comentários posteriores, havia fugido com o leiteiro , levando  com ela todo o enxoval que o Faísca havia comprado ...


                            Seguiram-se falatórios, alaridos, choros e confusões, o pessoal da Turma, saiu pela porta da sacristia  amparando o Faísca desolado, enquanto o Padre, com muito custo conseguiu iniciar a Santa Missa.


                            Com muita ajuda dos parentes e amigos,  meses depois o Faísca  já estava saindo para frequentar  alguns “Bate-Sacos” na periferia, ficava mais tempo bebendo , cabisbaixo em algum canto do salão, e vários colegas procuravam distraí-lo contando anedotas , causos ,  acontecimentos  e  resultados de partidas de futebol...

                            Três anos depois de procurar bagunçar o coreto, frequentar, constantemente, a zona do baixo meretrício, e outras coisitas mais, do rol de solteiros, novamente, Faísca consegue arrumar uma nova namorada,” Vidinha”, apelido da mocinha pacata  Maria Rosa, filha de um funcionário aposentado da CMTC,  que chegara da capital e estava morando em nossa cidade.

                            A moça conseguiu trazer nova vida ao Faísca, já se notava brilho em seus olhos azuis , e sorriso franco em seus lábios...

                            Sua disposição e conduta era outra, voltou a trajar-se com roupas e calçados  novos, de maneira elegante, sorria, cumprimentava à todos,  dosando seus tragos, era um novo homem que voltara a encarnar   naquele corpo então triste e desanimado , deixando até de ser o criticado ébrio contumaz.

                            O novo par, passou a ser admirado, era visto,  e convidado à diversas festas,   ou indo ao cinema, circos , campos  de futebol, e até em destaque no carnaval de rua e  de salão.

                            Faísca e sua namorada,  pareciam ter, e  distribuir muita alegria, por onde estavam e passavam....

                            Uma coisa era relutante, falar em casamento, pois Faísca  tinha  aversão , em razão aos anteriores acontecimentos, que marcaram sua vida...


                            E mesmo assim, os amigos, os parentes, e a própria namorada, queriam fazer  ele esquecer  o lado  obscuro que tanto o atormentara no passado, mas, parecia ser difícil....

                            Passaram a ir à igreja, assistirem semanalmente a missa, comparecerem à outras cerimônias , inclusive  de batizados, crismas e  casamentos de pessoas conhecidas ou não   , a fim de tirarem o complexo que o pobre homem carregava , como  um pesado martírio.


                            Até que  em uma noite estrelada, o dileto  par, sentado em um banco,  sob o caramanchão que havia em nossa praça central , aos beijos e abraços,  resolveu falar em  unir suas vidas, unindo-se em matrimônio...

                            Ao saberem do acontecimento, a alegria foi geral, estava marcada a cerimônia civil e religiosa , que iria  regularizar a situação daquele simpático casal, que já era tão querido de nossa comunidade.

                            No próximo mês de maio, todos nós  estávamos convidados a  comparecermos  , no dia l5, tanto ao cartório civil, como na igreja , a fim de testemunharmos a união conjugal de Vitinha e Faísca, seria por volta das  l6,00 horas no Cartório, e depois  às l8,30 horas na Matriz, e após  tais atos, a festa com churrasco, enorme bolo, bebidas diversas  e doces,  no Clube Nipônico, alugado  especialmente para esta finalidade, com uma boa equipe de churrasqueiros, garçons e garçonetes,  devidamente treinada  para servirem  bem os inúmeros  convidados.

                            O noivo havia  comprado  e já presenteado a noiva com um lindo anel de brilhantes ,  uma casa , que já estava mobiliada, um par de alianças de ouro,   e também colaborado muito em completar  o seu  enxoval , inclusive pagando  totalmente  a festa e o  vestido de casamento .


                            Faísca havia contratado um táxi moderno de fora, e gratificado muito bem, antecipadamente, o motorista,  a fim de que vigiasse  a noiva, trazendo a mesma às cerimônias , tanto na do cartório, como na  da igreja .

                            Por volta das l5,45 horas, já encostava o táxi trazendo a noiva, com luxuoso vestido e o bonito anel ,  para a cerimônia no cartório civil, o que foi feito.

                            Os nubentes, bastante sorridentes,  estavam  felizes, assim como seus  amigos  e  demais parentes, presentes à aquele bonito acontecimento.

                            Após a dita cerimônia, a noiva,  e seus pais, voltaram, no  referido táxi, para a  sua casa, acenando ao noivo que  ficara com os demais convidados, aguardando o ato religioso, e conferindo os  últimos preparativos para festa no Clube Nipônico.
                           
                            Na casa dos tios do noivo, não paravam de chegar presentes e mais presentes, uma vez que quase toda a cidade estava convidada para o casamento do ano.

                            Os  segundos, os minutos,  e as horas foram passando,  até que os ponteiros chegaram perto do horário do casamento religioso, e todos nós fomos para a igreja matriz, aguardar o cerimonial tanto esperado !

                            A praça estava cheia de gente e de veículos, e a Matriz, toda enfeitada  e decorada com flores, rendas, tecidos  e luzes, de modo especial para a referida finalidade,   foi se enchendo também, cada um procurando um lugar nos bancos da igreja, para presenciarem o grande acontecimento .


                            Não demorou muito,  ladeado pelos seus padrinhos, o noivo com bonito terno azul marinho, camisa branca, gravata vermelha e sapatos pretos luzentes, adentrava  todo feliz, acenando aos que lhe cumprimentavam à distancia, indo para perto do altar, à espera de sua noiva , para, enfim, sacramentarem , sob a presença do Pároco e de todos os presenciais, aquela invejável união.

                            Cada segundo  de espera, era um grande martírio do noivo, e da Turma, que se encontrava completa  ali de lado,  em expectativa .

                            Já havia um atraso de dez minutos, mas, isso é comum , pois as mulheres costumam demorar para se arrumarem .

                            Meia hora, já estava sendo um tormento !

                            Aqui entre nós, saí de  fininho, quando ouvi os rumores de que a  Vidinha havia fugido com o motorista do táxi, e não tive coragem de olhar prá trás, não vendo o Faísca desmaiar lá perto do altar, ,  e saber depois, também,  de que tudo era verdade, sem se falar no imenso   desespero de  seus  parentes e amigos.

                            Triste sina a do Faísca, heim ?
.


                                                                  Milton  Hauy

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

A MULHER DO SHORT VERMELHO

                    Vivemos em um mundo estranho, que a cada dia nos ensina que  a nossa pequenez  é tanta, diante de Deus, que muita gente  que pensa ser grande  e possuir  tudo, sem precisar de ninguém , verá surpreso  o seu engano, geralmente tarde demais...



                   Nas estradas da vida, existem várias encruzilhadas, que nos deixam confusos, qual caminho a seguir... que rumo tomar....  enfim , lá vamos nós, com nossos irmãos de caminhada...


                   Contaram-me, que há  poucos  meses, retornando para sua  casa, aqui em Getulina,  um amigo, com seu carro próprio, vinha cansado, depois de mais um dia de árduo trabalho  na Equipav (Usina de Açúcar e Álcool, localizada no vizinho município de Promissão).


                    Naquela  noite, quase chegando em nossa cidade,  ao passar  em frente ao nosso Recinto de Leilões  (nosso não, e sim do Dr. Fumio) , vislumbrou, inesperadamente,  o  dito   amigo , diante do seu veículo, uma mulher clara ,  de blusa branca e short vermelho, como a querer suicidar-se,  atirando-se sobre o  carro...         

                   Bastante assustado, o motorista,   acionou o freio de seu carro, e o   estacionou no acostamento, voltando rapidamente, a fim de socorrer a vítima...

                   Tamanho foi o seu espanto, em verificar, após várias procuras , não encontrar ninguém...


                   Meio zonzo com o acontecido, retomou o seu automóvel e dirigiu-se até sua residência.

                   No céu a lua cheia iluminava a estrada , que se apresentava com nevoeiro intenso...

                   Lá chegando, ficou  meio acanhado de contar aos seus familiares, principalmente à esposa, o ocorrido.


                   Sentou, em uma poltrona,  um pouco para descansar.... tentou ler o jornal, mas, as letras bailavam  em sua frente, voltando a lembrar da cena  que ocorrera  antes...

                   Após tomar  um banho, e  a mulher do short vermelho não saia de sua mente... contou à sua esposa , o que  acontecera, pedindo não divulgar o fato, pois achariam que estava ficando  maluco....

                   Ela lhe disse que talvez, tenha havido uma miragem, pelo seu cansaço , que poderia estar se transformando em stress...

                   Ele afirmava ter visto , sem sombras de dúvidas, a mulher clara de blusa branca e short vermelho,  saltando  sobre as rodas de seu carro...




                    Assim como ele, sua esposa também era muito religiosa, e ambos, auxiliavam muito na Paróquia local, inclusive ela, ministrando  aulas de catecismo aos jovens de nossa região.


                   Dias depois, alguns do alunos, que vinham da zona rural, se atrasaram em chegar às aulas de catecismo, numa noite de sexta feira.

                   Horas depois, chegaram os alunos, todos assustados, narrando, que no mesmo local  - em frente ao Recinto de Leilões -  uma mulher, com  shorts vermelho,   havia se atirado em baixo do ônibus, quase causando  um grave acidente, eis que o motorista tentou desviar-se, e o  veículo quase capotou...


                   Que ao descerem, para verificarem o ocorrido, não havia mulher alguma, e nem ninguém  na estrada...

                   Vasculharam o mato do acostamento, observaram ao longo da pista, e nada... apenas um vento frio soprando , e um frio maior percorrendo o corpo de todos, admirados !


                   Com  os corações batendo descompassadamente, os alunos retornaram, juntamente com o seu motorista, ao ônibus, e rumaram para a Matriz, onde passaram a contar à professora (mulher do amigo, que dias antes, presenciara a mesma  e tétrica cena) o motivo do enorme susto que levaram, e o misterioso desaparecimento da mulher do short  vermelho...

                   A professora, bem mais que os seus alunos, ficou pasma !
                  
                   E não via a hora de terminar as  aulas, para chegar em casa e contar ao seu marido, o que os alunos viram e  lhe contaram, o que vinha  certificar o que vira e acontecera..

Apesar disso tudo, muita gente não acreditou nos fatos que narraram, achando tudo  uma  invenção  tamanha !

Porém semana passada, quando voltava de Lins, já era noitinha, avistei, no trevo da Colônia Nova, uma mulher, com os mesmos trajes descritos no caso acima, e lhe dei carona, rumo à nossa cidade....

Comentei o caso com ela , dizendo que o acontecera, e perguntei-lhe se  morava nas proximidades de Getulina....


Respondeu-me que sim, e que talvez alguém a tenha visto, ou passado por ela  na estrada e ficou criando coisas fantásticas, que não correram...

Dei risada, e fiquei pensando em chegar à Getulina e comentar com as pessoas , principalmente com o meu amigo, o engano que comentaram...

Quando passava em frente ao Recinto, fui perguntar à  mulher do short vermelho, se ela não iria descer por ali...

Ocasião que senti um forte arrepio pelo corpo, olhei para o lado e estava só em meu carro... ela havia desaparecido...

                   Aqui  entre  nós, realmente, existe muita coisa estranha,  neste nosso mundo estranho ...  você  acredita  ?  ou não ?



                                                                  Milton   Hauy